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segunda-feira, 4 de março de 2013

A música e o Cérebro


por Filipa Lima

A música ou “Arte das Musas” é a forma de arte mais procurada hoje em dia. Diria mesmo que o Homem e a música têm uma relação tão intensa e apaixonante que é difícil de descrever. Com os seus diferentes estilos e formas, a música tem-se tornado inclusive uma forma de comunicação, de socialização, de prazer, de divertimento, de expressão das emoções... Mas como é esta relação entre o Homem e a música estabelecida? De que forma é o nosso cérebro afetado por esta forma de arte?
Tudo começa quando o som chega à porção externa do nosso ouvido através da vibração das partículas de ar do meio ambiente. Essa vibração vai ser transmitida ao nosso tímpano e deste passa para 3 ossículos que temos no ouvido médio (o martelo, a bigorna e o estribo) que vão transmitir a informação ao ouvido interno, onde existe a cóclea (ou caracol, assim chamada devido à sua forma peculiar). A cóclea contém as chamadas células ciliadas que se movimentam na presença de som, permitindo ao órgão de corti a conversão de energia mecânica em energia nervosa que, por sua vez, vai ser transmitida por neurónios até à ponte, no tronco cerebral, depois ao mesencéfalo, tálamo e finalmente ao córtex auditivo, situado no lobo temporal do nosso cérebro.


Mas para além do lobo temporal, também outras partes do cérebro processam a música. Por exemplo, um simples ritmo ativa o córtex frontal e parietal esquerdos e o córtex direito do cerebelo, enquanto ritmos mais complexos ativam ainda áreas mais complexas. Também o tom, o que nos permite saber a afinação, e portanto outra parte crucial numa música, ativa outras regiões no nosso cérebro, como o córtex pré-frontal, o cerebelo e várias partes do lobo temporal. Isto significa que a musica interage com 3 dos nossos 4 lobos cerebrais – frontal, parietal e temporal, com apenas o córtex visual – lobo occipital- não afetado… mas talvez nem essa região do cérebro escape dos efeitos musicais, como veremos mais à frente.
O processamento da música costuma ser classificado como uma “atividade do cérebro direito”, ou seja esse processamento está centrado no hemisfério direito do cérebro. Isto encaixa perfeitamente na ideia geral de que o hemisfério esquerdo está mais relacionado com a lógica e o direito com a criatividade. A verdade é que embora a música afete mais o hemisfério direito do cérebro, o seu processo é tão difuso e descentralizado que se torna complicado afirmar com toda a certeza se apenas está um hemisfério envolvido. A música consegue, por exemplo, ativar uma cascata de respostas secundárias, até mesmo involuntárias. A tendência para executarmos movimentos quando ouvimos música (não dança, que já é um processo independente, mas movimentos simples como o estalar dos dedos ao ritmo da música), é um exemplo disto, mostrando que há a estimulação do córtex motor pelos sons. Outro “efeito-colateral” de ouvir música é a ativação do córtex visual, no lobo occipital, sendo criadas imagens mentais a que associamos com as mudanças e progressão da música. Também não nos podemos esquecer da importância da letra numa música, pois embora nem todas as músicas sejam acompanhadas de letra, as que o são afetam áreas específicas do cérebro como a área de Wernicke, situada no lobo temporal e fundamental para a compreensão da linguagem.
O nosso cérebro fica de tal forma envolvido quando se ouve música que também a nossa memória é ativada, sendo a melodia ou a letra simples de recordar mais tarde. Músicas e partes de músicas servem como gatilhos para a nossa memória lembrando-nos de situações da nossa vida que associamos com determinada música (um relacionamento, por exemplo). É também a memória uma das responsáveis por gostarmos mais de umas musicas do que de outras, exatamente por associarmos a momentos da nossa vida que gostamos mais do que outros.
Algo que todos estaremos de acordo é da enorme capacidade da musica de provocar respostas emocionais. Estudos imagiológicos do cérebro têm mostrado que músicas “alegres” estimulam os centros de recompensa, havendo a produção e libertação de dopamina, a hormona responsável pelo prazer. Um facto interessante foi o decorrente de um estudo a uma mulher sem lobo temporal e portanto sem córtex auditivo, que ainda assim conseguia compreender melodias diferentes e outras propriedades musicais, conseguindo ter ainda a perceção da emoção transmitida pela música como sendo “triste” ou “alegre”.
Para concluir, um dos aspetos mais desafiantes desta relação cérebro-música é a individualidade quer na criação de cada peça musical quer na sua posterior interpretação. Sem uma letra acompanhante, com as ideias chave que o autor/compositor quer transmitir, e que nós seres racionais associamos portanto a um sentimento especifico, a variedade de interpretações pode ser gigantesca. Uma letra mais abstrata ou uma simples melodia podem levar-nos a tão diferentes sentimentos e emoções que torna todo este processo auditivo algo simplesmente extraordinário. A música foi sem duvida uma criação magnifica e sem a qual não seriamos seres tao complexos como somos.

Para mais informações em vídeo, clique aqui e aqui.




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