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quarta-feira, 3 de abril de 2013

Bullying (ou: A tua mãe é que é!)

por Lostio

O bullying é um fenómeno já com muitos anos, e cujo termo, creio eu, não é particularmente novo a ninguém. Consiste essencialmente num modo de abuso, seja por via física ou verbal, por parte de algumas pessoas de modo a rebaixar e possivelmente humilhar outras, uma prática mais comuns em grupos de crianças e adolescentes.

A questão-essencial em qualquer discussão sobre bullying está no seguinte: deverá o bullying ser visto como um problema social? Mais relevante ainda, dever-se-ão aplicar métodos que visem combater esta situação e qual a importância dada aos mesmos?

A meu ver, há aqui dois pontos de vista básicos. Há quem diga que o bullying é uma parte inevitável da dinâmica social dos jovens, que constrói carácter e ajuda as vítimas a amadurecer e aprender com a experiência. Efectivamente, quem sofre de bullying e recupera da situação, geralmente refere que beneficiou da experiência, que esta ensinou a ultrapassar dificuldades e a defender-se a si próprio.
Porém, como em tudo, existe um lado negro... Casos mais extremistas de bullying levam a notáveis traumas duradouros, estados de depressão e a tentativas de suicídio. Quando as vítimas chegam a este mais pesaroso limite, obriga-nos a repensar essa perspectiva clássica de que o bullying é simplesmente “crianças a ser crianças” e que estas têm de aprender a lidar com ele. Daí que o outro ponto de vista consiste no de que bullying é um problema relevante, uma conduta condenável que merece a devida atenção de modo a dar apoio às suas vítimas e evitar que estas sofram excessivamente por sua causa.


Um problema típico em qualquer discussão de bullying está em definir a fronteira que divide o aceitável do inaceitável. Há vários casos que são exageradamente interpretados como bullying. Crianças a inventarem alcunhas umas para as outras, a chamarem-se nomes ou a insultar as respectivas mães, tudo isso pode frequentemente ser visto como brincadeiras inocentes ou não, dependendo de muitos outros factores, tais como a persistência das mesmas, a vileza com que são realizadas, e a própria vulnerabilidade psicológica da vítima.
Outra questão importante neste tipo de discussões está em tentar dissecar a verdadeira origem do problema. Dependendo da situação específica e do contexto, pode-se apontar a origem do problema na vítima, marcada por fragilidade emocional e angústias psicológicas que a fazem reagir pior perante os cenários que poderiam ser interpretados como “brincadeiras inocentes” por outros, e muitas vezes se pode apontar a origem ao próprio bully, em situações onde este abusa rotineiramente a vítima, ou recorre a violência física e verbal verdadeiramente agressiva.

Hoje em dia, temos um novo meio que fornece uma arma poderosa no que toca a esta prática: a Internet. Com ela, o bullying conseguiu passar para as vias rápidas virtuais, tendo-se agora o problema acrescido de cyberbullying. Com a ausência de um contacto face-a-face, muitas pessoas revelam mais facilmente a sua faceta mais cruel, sem receio de represálias, porque estão envolvidas por detrás da máscara de anonimato. Relembre-se o famoso caso de Amanda Todd:


Por mais que analisemos os casos, apontemos culpas, e discutamos a validade dos casos-exemplo como válidos ou pessoas a “fazerem uma tempestade num copo de água”, algo que creio ser impossível de se negar é que, se existem vítimas verdadeiramente a sofrer por bullying, então devem ser ajudadas. Não é o nosso papel fazermo-nos de superiores e julgarmos os outros, categorizando-os indevidamente como “fracos”, mas sim fornecer ajuda quando ela é evidentemente precisa.

Qualquer escola deverá estar ciente do problema de bullying, e fazer todos os possíveis por o evitar sempre que se veja que está a afectar seriamente a vítima. Ninguém é alheio aos sentimentos de inadequação social e de solidão. Combater o bullying não irá subitamente fazê-los desaparecer, mas acredito piamente que é um acto que só piora a situação. Além de alimentar a estigmatização e a rejeição de pessoas de certos grupos sociais por características discriminadoras (orientação sexual, estatuto social...), é um acto que eu vejo como sendo completamente infrutífero, e que alguns estudos até sugerem ser responsável por afectar genes de stress e de saúde mental.

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