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domingo, 17 de fevereiro de 2013

A Forma Perfeita de Habitar

por Manuela Braga


Já há algum tempo que me deparo a pensar, se a felicidade do ser humano depende da forma de habitar, do envólucro que habita, ou das necessidades emergentes da vida e das escolhas daí resultantes?
Vou falar de duas versões com que me deparei na minha vida profissional.

-A primeira é relativa a uma ou várias encomendas, dado que se repetiam os programas e as necessidades  básicas.
O princípio básico do espaço de habitar era a  categoria, dos materiais de construção ,da estéctica e  inovação.  Denuncio a vaidade dos encomendadores . A casa simbolizava a capacidade económica , a representação social a subida de escalão. O projecto teria que ser “moderno”, os materiais ( escolhidos nas revistas mais actuais e de cotação internacional). A estrutura interna e de organização espacial, teria que corresponder a um padrão por comparação aos exemplos existentes na roda de amigos. A dicotomia  qualidade / sustentabilidade  nunca foi entendida como um objectivo, tendo sido objectivada a relação dimensão/ conforto,  em que os moradores escolhiam zonas da casa diferenciadas, para não se perturbarem e conviverem na base do maior conforto sem terem que se cruzar entre si necessariamente, tendo necessidade de ter áreas da casa para receber .

O segundo é singular , uma experiência de rua com um “sem -abrigo “em Nova Yorque.
Trata-se de um encontro muito breve, que aconteceu, porque estava a fumar e fui interpelada com o pedido de um cigarro.
Começamos por trocar umas palavras  e descobri rapidamente, que se tratava de um Europeu , estava há uns 30 anos naquela cidade. A forma como tinha chegado, seria igual a de muitos outros viajantes, jovem, crescido numa família diferenciada . Tinha vivido toda a sua infância em viagem com pais intelectuais capitalistas. Quando fez 20 anos ofereceram-lhe uma grande verba para escolher o país e a cidade onde viver. Escolheu NY, os negócios não correram bem, a situação foi-se deteriorando,  o apartamento, foi substituído por um quarto, e o quarto, pela rua, actualmente vivia nos túneis do Metro.
Perguntei-lhe se tinha conforto e se vivia em paz, pus em causa a forma de Habitar.
Ao qual me respondeu, que era óptimo viver no túnel do Metro , havia sectores e respeitavam-se.
Ny era a cidade mais fascinante e na qual tinha sempre algo para ver e aprender, não faltava nada, a comida  era resgatada diariamente nas  traseiras dos restaurantes, os seus  amigos eram as ruas que mudavam, os espectáculos , os olhares diferentes de pessoas de todo o Mundo, não podia correr Mundo, mas ele passava por ali diáriamente, era o  centro do seu Universo,  ninguém lhe pedisse para sair, estava apaixonado, não sairia nem à força, vivia em segurança e queria morrer ali. Era um felizardo. E despediu-se de mim com um amável sorriso e um berro para o cèu-I LOVE NY-

Destas duas experiências podemos deduzir que a casa pode ser perfeita, depende da cabeça que a habita. O preconceito de quem a projecta pode destruir a felicidade de quem a habita.

Para finalizar gostaria de vos perguntar? Destes dois exemplos, Qual o mais feliz, o mais livre , o mais perfeito na forma como habitava.?

Antes de habitar a casa tem que se conhecer a si próprio e saber como habitar o Mundo.

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