Já há algum tempo que
me deparo a pensar, se a felicidade do ser humano depende da forma de habitar,
do envólucro que habita, ou das necessidades emergentes da vida e das escolhas
daí resultantes?
Vou falar de duas versões com que me deparei na minha vida
profissional.
-A primeira é relativa a uma ou
várias encomendas, dado que se repetiam os programas e as necessidades básicas.
O princípio básico do espaço de
habitar era a categoria, dos materiais de
construção ,da estéctica e inovação. Denuncio a vaidade dos encomendadores . A casa
simbolizava a capacidade económica , a representação social a subida de
escalão. O projecto teria que ser “moderno”, os materiais ( escolhidos nas
revistas mais actuais e de cotação internacional). A estrutura interna e de
organização espacial, teria que corresponder a um padrão por comparação aos
exemplos existentes na roda de amigos. A dicotomia qualidade / sustentabilidade nunca foi entendida como um objectivo, tendo
sido objectivada a relação dimensão/ conforto, em que os moradores escolhiam zonas da casa
diferenciadas, para não se perturbarem e conviverem na base do maior conforto
sem terem que se cruzar entre si necessariamente, tendo necessidade de ter
áreas da casa para receber .
O segundo é singular , uma experiência de rua com um “sem
-abrigo “em Nova Yorque.
Trata-se de um encontro muito breve, que aconteceu, porque
estava a fumar e fui interpelada com o pedido de um cigarro.
Começamos por trocar umas palavras e descobri rapidamente, que se tratava de um
Europeu , estava há uns 30 anos naquela cidade. A forma como tinha chegado,
seria igual a de muitos outros viajantes, jovem, crescido numa família
diferenciada . Tinha vivido toda a sua infância em viagem com pais intelectuais
capitalistas. Quando fez 20 anos ofereceram-lhe uma grande verba para escolher
o país e a cidade onde viver. Escolheu NY, os negócios não correram bem, a
situação foi-se deteriorando, o
apartamento, foi substituído por um quarto, e o quarto, pela rua, actualmente
vivia nos túneis do Metro.
Perguntei-lhe se tinha conforto e se vivia em paz, pus em
causa a forma de Habitar.
Ao qual me respondeu, que era óptimo viver no túnel do Metro
, havia sectores e respeitavam-se.
Ny era a cidade mais fascinante e na qual tinha sempre algo
para ver e aprender, não faltava nada, a comida era resgatada diariamente nas traseiras dos restaurantes, os seus amigos eram as ruas que mudavam, os
espectáculos , os olhares diferentes de pessoas de todo o Mundo, não podia
correr Mundo, mas ele passava por ali diáriamente, era o centro do seu Universo, ninguém lhe pedisse para sair, estava
apaixonado, não sairia nem à força, vivia em segurança e queria morrer ali. Era
um felizardo. E despediu-se de mim com um amável sorriso e um berro para o
cèu-I LOVE NY-
Destas duas experiências podemos deduzir que a casa pode ser
perfeita, depende da cabeça que a habita. O preconceito de quem a projecta pode
destruir a felicidade de quem a habita.
Para finalizar gostaria de vos perguntar? Destes dois
exemplos, Qual o mais feliz, o mais livre , o mais perfeito na forma como
habitava.?
Antes de habitar a casa tem que se conhecer a si próprio e
saber como habitar o Mundo.
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