Blogue de divulgação cultural, escrito por 28 pessoas. Um texto por dia, todos os dias.

terça-feira, 30 de abril de 2013

O ETERNO RETORNO


Com uma ajudinha dos conselheiros Acácios

por Luiz de Mont'André

 – Então, Cohen, diga-nos você, conte-nos cá… O empréstimo faz-se ou não se faz?
E acirrou a curiosidade, dizendo para todos os lados que aquela questão do empréstimo era grave. Uma operação tremenda, um verdadeiro episódio histórico!... 
O Cohen colocou uma pitada de sal à beira do prato, e respondeu, com autoridade, que o empréstimo tinha de se realizar «absolutamente». Os empréstimos em Portugal constituíam hoje uma das fontes de receita, tão regular, tão indispensável, tão sabida como o imposto. A única ocupação mesmo dos ministérios era esta – «cobrar o imposto» e «fazer o empréstimo». E assim se havia de continuar…
Carlos não entendia de finanças: mas parecia-lhe que, desse modo, o país ia alegremente e lindamente para a bancarrota. 
– Num galopezinho muito seguro e muito a direto – disse o Cohen, sorrindo. – Ah, sobre isso, ninguém tem ilusões, meu caro senhor. Nem os próprios ministros da Fazenda!... A bancarrota é inevitável: é como quem faz uma soma…

Os Maias, claro, livro sempre e cada vez mais actual em mais lugares. 
Publicado em 1888. 
E o país foi, mas só em 1892. 
Outros tempos, mais lentos, mais remansosos, menos eficazes.
Sabe-se como agora é tudo mais acelerado e certeiro. E os conselheiros Acácios velam por que não haja mais delongas do que as estritamente necessárias.

Tempo é dinheiro.

Sem comentários:

Enviar um comentário