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sábado, 20 de abril de 2013

Para o leitor que leu tudo

por Rui Filipe

Talvez por uma extrema falta de criatividade, ou então por um gosto pouco saudável, dou por mim a falar de um tema, e de um herói, que já tratei anteriormente. Falo exactamente do Super-homem e de uma das múltiplas análises que é feita ao seu lado humano. Voltando a tratar, ainda mais outra vez, o senhor Alan Moore (que para alguém que tem o pouco discernimento de seguir as minhas entradas neste blog, nota que este autor causa em mim uma estranha devoção) e as suas histórias, neste caso debruçamos sobre o pequeno (algo que em nada influência o seu valor) For the Man Who has Everything.

Já falei anteriormente de uma história em que se expunha o homem de aço nos seus medos. Agora, mesmo voltando a haver uma manifestação da parte humana deste herói, esta ocorre, tal como o título indica em certa medida, a partir de uma outra coisa que sem nos aperceber também mostra em grande parte quem somos – os nossos desejos mais profundos.

Devido a um estranho plano, vemos um dos inimigos do herói aqui em causa a dar-lhe a coisa mais contra sensual possível, a obtenção do contentamento pela realização do que ele mais quer. Claro que de início, aliando a estranheza ao estranho, pode parecer um pouco bizarra a premissa de se dar o desejo mais profundo que se encontra presente do coração de um homem que voa, tem super força e velocidade, e que consegue cozinhar qualquer refeição a 5000 quilómetros de distâncias apenas com os olhos. Mas é exactamente aqui que nos voltamos a aperceber da verdadeira pessoa que está por detrás de toda aquela imagem heróica que é este símbolo da cultura popular.

Não vou, como é claro, dizer especificamente como é possível que tal se cumpra, e quais são os desejos em causa para o nosso Super-homem. Apenas direi que talvez seja surpreendente o resultado, especialmente quando, ao olharmos bem, notamos que há algo de estranho neste desejo concretizado. Acima de tudo, percebemos que possivelmente, para um herói, a sua visão do mundo e de si mesmo enquanto tomando este lugar é tal que, mesmo no seu maior desejo, já é impossível separar a imperfeição daquilo que é cobiçado. Porque afinal de contas, se um herói desejasse um mundo perfeito onde não é preciso heróis, então qual era o lugar do herói que deseja neste?

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