A
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável realizada em
junho de 2012 ficará conhecida por Rio + 20 por ter sido realizada 20 anos
depois da primeira Conferência do Rio de Janeiro.
No seu
termo é natural que se queira fazer o balanço dos resultados. Para os mais
céticos o saldo destes encontros é sempre negativo, mas participam sempre em
todos eles, o que parece um paradoxo. Mas se não fosse o contributo dos mais
inflexíveis defensores das mudanças urgentes não era necessário realizar um
fórum internacional. A falta de acordos vinculativos entre os Estados e as
empresas só pode ser frustrante para quem possa esperar que os mais poderosos
vão aceitar voluntariamente ceder o seu domínio aos apelos dos cientistas, dos
cidadãos bem-intencionados e das organizações não oficiais.
Em vinte
anos criou-se na Humanidade o conceito novo de desenvolvimento sustentável,
modelo que é oposto ao de crescimento económico baseado no aumento do consumo
do que é supérfluo e nada acrescenta (pelo contrário) ao bem-estar individual e
coletivo.
Aprendemos
a encarar o Ambiente numa ótica abrangente, livre do compartimento estanque
conservacionista e antropocentrista de há poucos anos. O modelo de
desenvolvimento tem de incluir em primeiro lugar a erradicação da fome,
necessária e possível, quando a produção alimentar é superior ao dobro do que
seria necessário para alimentar a atual população mundial. O modelo de
desenvolvimento não pode estar dependente e criar dependências dos Estados e das
populações a quem detém as fontes de energia com origem em fontes poluentes e
que causam desastres ambientais (a contaminação pelo nuclear ou a poluição,
efeito de estufa e alterações climáticas provocadas pelos combustíveis
fósseis).
Tomou-se
consciência que os recursos naturais são limitados e é necessário aproveitar os
ciclos dos materiais numa constante transformação (reciclagem).
Os países
e multinacionais poderosos tentam ainda manter a sua supremacia, propondo um
novo tipo de “capitalismo verde” que compensasse os prejuízos causados com
indemnizações. Mas, como refere Boaventura de Sousa Santos, “não é vendendo a
natureza que a defendemos”. Temos de prevenir e impedir o crime em vez de o
fazer pagar. A emissão de gases de efeito de estufa, o uso indevido dos solos e
da água, a exploração dos recursos naturais não podem ser compensados por
taxas, porque causam danos irreversíveis.
Paralelamente
à conferência oficial, além dos resultados pouco conclusivos e vinculativos e
de outros resultados práticos, como a decisão da formação do Centro Mundial
para o Desenvolvimento Sustentável, decorreu a Cúpula dos Povos. Esta
realização reforça a intervenção dos que avançam com soluções que nunca serão
aceites voluntariamente pelo poder económico e pelo político que o sustém e é
sustentado por aquele. As soluções têm de ser inevitavelmente seguidas pelo
poder, como imanente da consciência dos povos. Será que um povo com fome não se
revolta, tendo a organização e consciência que pode acabar com a sua situação
de injustiça e desigualdade?
A participação dos cidadãos nos movimentos
sociais que dão expressão à necessidade de mudar o sistema fazem aumentar a
pressão sobre o poder para alterar o modelo de desenvolvimento.
Os cidadãos conscientes e “despoluídos”, ou não
contaminados pelo sistema tornarão obrigatória a ambicionada reforma antecipada
desta geração de financeiros, economistas, políticos e teóricos de uma matriz
capitalista ultrapassada pela realidade.
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