Este será um texto mais expositivo, uma homenagem a um dos grandes artistas da actualidade e de sempre.
No passado dia 22 de Junho, aquela que é, para mim, a melhor actriz de sempre, fez anos. Meryl Streep completou 63 maravilhosas Primaveras, repletas de desempenhos que não estão ao alcance de nenhum outro artista, marcadas por uma constante sublimação e auto-superação que ainda hoje continua. Assim, é apropriado revermos a carreira de uma mulher que marcou para sempre o cinema.
Primeiro de tudo, os factos: Streep detém o recorde de maior número de nomeações para o Óscar da Academia de sempre para um actor: dezassete. É a actriz viva com mais Óscares ganhos: três. Tem também o recorde do maior número de nomeações para os Globos de Ouro para um actor, com vinte e seis. É, igualmente, quem ganhou mais vezes: oito. Recorde de maior número de nomeações para os BAFTA: catorze. Importante mencionar que Streep já está no restrito lote de vencedores de prémios em Cannes e Berlim – só falta mesmo Veneza.
Meryl Streep tem uma forma de actuar diferente de tudo o resto. Enquanto outros se especializam em certos papéis (Al Pacino é o eterno gangster, Kate Winslet é para sempre coitadinha, Katharine Hepburn a mulher forte e poderosa com fragilidade escondida, Robert De Niro o durão...), a artista americana revela uma versatilidade impressionante. Não só faz tudo, como é a melhor em tudo o que faz.
Vejamos os seus últimos sete filmes: O Diabo Veste Prada, Mamma Mia!, Dúvida, Julie e Julia, Amar... É Complicado!, A Dama de Ferro e o próximo Hope Springs. Partimos de uma rainha da moda sem escrúpulos, em que a sua expressão favorita é um frívolo “That’s all” com que dispensa as suas funcionárias que mais parecem escravas. Vemos um musical em que ela anda aos saltos, feliz da vida, dançando e cantando a plenos pulmões. Logo a seguir, nova mudança radical de registo: uma freira autoritária que luta para fazer justiça, mas que nem da sua própria fé está cem por cento segura. Entretanto, passagem por uma espécie de biopic em que dá corpo a uma cozinheira algo excêntrica, fotocópia autêntica da verdadeira Julia Child. Tempo para uma comédia romântica de Nora Ephron, realizadora de autênticos sucessos (e bons filmes do género) como Você Tem Uma Mensagem (Tom Hanks e Meg Ryan) e Alguém Tem Que Ceder (um dos meus favoritos, com Diane Keaton e Jack Nicholson). Este ano, Margaret Thatcher. E, por fim, nova comédia romântica em que um casal mais velho lida com questões da meia-idade mais avançada e da vida em conjunto. Não há margem para dúvidas: quem viu, no mesmo ano (2008), a actriz no espampanante Mamma Mia! e, logo a seguir, no austero Dúvida, não pode fugir à realidade: Streep é a actriz (e o actor) mais versátil que existe e, muito provavelmente, que alguma vez existiu e existirá.
A abordagem de Meryl ao envelhecimento é deveras interessante e prova a sua qualidade como actriz: disse que não gosta de esconder as rugas e que envelhecer é bom, pois já não a chamam para ser a estonteante actriz principal; pode, em vez disso, escolher papéis mais maduros em que lhe é permitido explorar as idiossincrasias das suas personagens e da raça humana. Uma visão acertada e que demonstra que os quarenta anos de um actor não são a sua morte cinematográfica, senão a oportunidade de viver uma nova vida como intérprete.
Hoje, aos 63 anos, Meryl Streep é a actriz mais respeitada da situação cinematográfica mundial. Porém, não se pense que ela acumula somente créditos no grande ecrã: a sua magnífica carreira já lhe granjeou inúmeras referências no teatro e até na música. Theatre World, Drama Desk, Obie, Outer Critics Circle e Tony Awards homenageiam o seu talento teatral e várias nomeações para os Grammy Awards já homenagearam a sua veia musical.
Não tenho, por isso, quaisquer dúvidas em afirmar que estamos a falar da actriz – e, quiçá, da artista performativa – mais completa que existe. Ninguém, no panorama actual, se equipara à versatilidade de Meryl Streep e ao modo como ela consegue manter um nível acima de todos os outros em tudo o que faz – todos os papéis e mais algum, sejam cómicos, românticos, dramáticos... até num macabro A Morte Fica-vos Tão Bem. Mais papéis virão e, embora duvide que Streep suba mais alguma vez ao palco dos Óscares (muitos interesses reinam na fábrica dos sonhos), é indubitável que outras nomeações se sucederão e que, um dia, Meryl seja por fim unanimemente considerada a Melhor Actriz de Todos os Tempos.
84ª Cerimónia dos Óscares, em 2012 - Prémio de Melhor Actriz pela performance em Iron Lady
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