Há tempos atrás estava eu a estudar Fisiologia, quando me deparei com o seguinte tópico: A destruição de grandes pedaços do córtex (cerebral) não impede de ter pensamentos, mas reduz a sua profundidade e reduz a consciência do que nos rodeia.
Esta foi só mais uma das várias citações que me fizeram parar e interrogar como poderiam eles saber isso. Afinal de contas não é todos os dias que uma pessoa perde um “pedaço” de córtex… primeiro, porque acidentes destes são relativamente raros e, depois, porque menos ainda são os que resistem para contar história.
Ou melhor, como é que alguém perde um “pedaço” de córtex?! Lembrei-me então de um vídeo a preto e branco que tinha visto há anos atrás, onde apareciam animais enjaulados com “aplicações” inventadas por alguma espécie de génio. Vivissecção, é como lhe chamam.
Afinal de contas, é graças a essas práticas que a ciência “humana” deve os seus avanços e sem elas certamente a ciência não seria o que é hoje. Resta saber até que ponto é justificável. Por mais que me custe dizer isto, estamos já tão habituados ao avanço e à ciência como resposta que os métodos pouco ou nada nos interessam face aos objetivos.
Mas eles surgem como resposta às perguntas do Homem, porque não usá-los? Atenção que não estou aqui a defender toda e qualquer prática, estou simplesmente a tentar deparar os leitores com os dois lados da moeda. Mas se não fossem estes animais, o que seria? Um toxicodependente há muito perdido na vida? Um mendigo? Alguém cuja falta não se fizesse sentir?
Sabe-se que a ciência usa cerca de 100 milhões de animais em todo o mundo, por ano, sendo que 11 milhões correspondem aos utilizados na Europa. São de várias nacionalidades, de várias cores, de vários tamanhos, de vários reinos. Se falarmos de um cão ou de um gato facilmente ganhamos a pena do leitor, talvez porque se tratam de animais mais frequentemente domesticados, mas estes não são as únicas vítimas; ainda temos os coelhos, as lulas, sapos, peixes, chimpanzés, macacos, porcos e, entre muitíssimos mais, os famosos ratos e murganhos. Quem não está já tão acostumado a ver fotografias de ratinhos brancos gordos, esqueléticos, com orelhas nas costas, sem patas, com patas a mais, sem cauda, sem cabeça e com o diabo no corpo?!
E é verdade que os animais são rigorosamente seleccionados, mas há sempre alguma diferença a nível de genótipo. É impossível extrapolar os resultados animais para os humanos quando as diferenças estão à vista de todos, mais não sejam as diferenças fisiológicas e anatómicas.
Destes estudos relacionados com bombas atómicas a experimentos para estudo da dor e da acção e efeitos de anestésicos (que são bastante comuns nos dias de hoje), nem sempre incluem obrigatoriamente a vivissecção, no entanto, continuam a ser homens e a ser animais…
Por último, o cérebro, que sendo o órgão menos conhecido do corpo humano fácil será adivinhar que é um alvo bastante apreciável aos praticantes dessa ciência. Animais hipofisectomizados são só um exemplo, basta dar asas à imaginação.
Claro que também não nos vamos pôr aqui a comprar o estilo de vida de um animal que recebe estímulos elétricos durante várias horas por dia e um outro que apenas carrega com mais 100g de uma orelha que não é sua, mas é por aí que podemos começar. Ambos são experiências, resta saber onde está o limite do justificável, do aceitável, do possível. Mas quem define esse limite?
Está em todo o lado, nós é que nos recusamos a ver.
De repente algo tão animalesco tornou-se simplesmente normal.
Tudo isso porque somos os da dita “raça superior”?
Este têm mesmo de ver:
E já agora este:
Em caso de extremo interesse e tempo também (dividido em 8 partes):
Os animais em estudo possuem, certamente, estruturas cerebrais semelhantes às dos humanos. O que torna o problema ainda mais grave, visto que isso aumenta a probabilidade de os animais serem seres conscientes. Aconselho qualquer interessado na discussão a pesquisar sobre o que o neurocientista Philip Low tem a dizer.
ResponderEliminarEu sabia que ias concordar comigo, Miguel ^^,
ResponderEliminarO problema reside exatamente aí, eles têm as vias de sensibilidade tanto ou mais desenvolvidas que nós, apesar de não terem as capacidades mentais mais elaboradas/complexas tão desenvolvidas, ou pelo menos desenvolvidas "à nossa maneira".