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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Foster Wallace


Part II

Os medos

por Francisca Russo

Books

Eu não sei se isto acontece com muitos de vós, mas de tempos a tempos deparo-me com uma daquelas fases em que leio excelentes escritores, e fico tão centrada em absorver os seus benefícios que não sou capaz de escrever uma palavra que seja. Por isto, penso que não seja surpresa que este texto tenha requerido todo o esforço muscular de que o meu cérebro é capaz. 

Ontem, enquanto a minha tecla de delete era pressionada vezes sem conta, pensei que só havia uma coisa a fazer, ir ler. Ainda só me encontro nas primeiras 200's páginas do Infinite Jest para poder ser capaz de fazer uma crítica com alguma coerência. Contudo, de x em x páginas vão surgindo lições que parecem mensagens divinas para o meu desespero. Nomeadamente, numa das perfeitas descrições que F.W. faz sobre a essência do desporto de alta competição, ele descreve como é fundamental repetir constantemente certos movimentos até que estes saíam tão fluídos que quando a consciência começa a bombardear a mente com dúvidas de insucesso, o atleta não vai estar ocupado a coordenar o modo como se mexe ao mesmo tempo que lida com o terror provocado pelo medo.  Isto fez-me pensar em como tudo na vida que vale realmente a pena adquirir (sejam virtudes ou sucessos) requer um treino constante. Não digo que o talento não seja crucial, mas se este não for posto à prova, nunca sairá desse planalto familiar. 

Isto fez-me pensar que mesmo quando temos a sorte de presenciar o talento de outros, ainda que seja numa patamar longínquo do que esperamos alcançar, não o devemos usar como desculpa para não trabalharmos no nosso ofício. Seja este público ou privado, os limites e oposições são criados por nós mesmos nas áreas que mais gozo nos dão. Se há algo que a literatura faz, é pôr a nu o que muitas vezes gostaríamos de esconder sobre nós próprios, o que neste caso significa continuar a escrever até que o medo deixe de existir. 

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