por Luís Noronha
Tem de acontecer, porque tem de ser
e o que tem de ser tem muita força
E sei que vai ser, porque tem de ser
Se é pra acontecer, pois que seja agora
(Seja agora – Deolinda)
Não! O fado, o destino, a sorte, não estão
escritos nas estrelas. Os horóscopos são uma artimanha para apanhar os
crédulos, os ingénuos, os incautos que acham que “sempre foi assim”… Não foi.
Sempre
foi assim dizem
sempre foi assim
sempre foi assim
mas está a ser diferente
(Sempre foi assim – Sérgio Godinho)
A sociedade em vez de avançar está a regredir. As
ideologias não morreram, pelo contrário, ressuscitam as que pensávamos já
mortas e enterradas.
As nossas esperanças, mais do que isso, as nossas
convicções eram de um futuro melhor, menos desigual, maior justiça social, mais
garantias para a paz, maior participação popular na definição dos seus destinos
(mais democracia participativa).
As empresas não precisam tanta mão-de-obra, com a
utilização de mecanismos robotizados, com o desenvolvimento da informatização.
Seria de esperar que para igual produção, com o mesmo lucro, sobrasse tempo ou
horas de trabalho para os trabalhadores as usarem para a família, para a formação,
para o lazer, para o desporto, para a cultura, para as viagens, para a
sociedade.
Pelo contrário, as empresas passaram a despedir
de forma mais livre, a pagar cada vez menos pelos despedimentos, a usar a
chantagem do contrato a prazo, precário, à tarefa, para garantir uma
“colaboração” submissa e sujeita a falta de regras mínimas. Sem o “colaborador”
reclamar, sem fazer greve, sem se manifestar.
Nas regras de convivência entre pessoas e países
agravou-se a defesa do direito do mais forte, do mais rico.
A desigualdade aumenta entre ricos e pobres.
Inculca-se a ideia de que os países ricos não têm de distribuir com os mais
pobres. As regiões ou os concelhos onde se “gera mais riqueza” não têm de ser
“prejudicados” pelos menos desenvolvidos. Esquecendo que essa “riqueza” é a
receita apresentada pelas empresas que têm sede nesse país, nessa região ou
nesse concelho. Mas cujos produtos são consumidos em todo o lado. Ou seja, uma
empresa que produz automóveis no país A, mas tem sede no país B, as receitas
são cobradas no B. Pela ideologia dominante esta “riqueza” deve ser
exclusivamente pertença do B…
Cresce alguma apatia em relação ao aumento da
pobreza, contrariada apenas pela “caridade”. É um aliviar de consciências dos
que têm cada vez mais e que acham que os outros que são atirados violentamente
para a indigência aguentam cada vez maior austeridade. “Ai aguentam, aguentam”
(Fernando Ulrich, presidente do banco BPI).
A propósito da caridade, disse o padre Jardim
Moreira, pároco numa zona pobre do Porto e da rede europeia anti-pobreza, na
RTP:
“Em caso de emergência é necessário que ninguém
morra de fome, mas que ninguém tenha de ir buscar por piedade o que devia ser
dado por justiça”.
O Estado só tem razão de ser para proteger os
seus cidadãos e para cumprir e fazer cumprir as leis que regulam o funcionamento
justo da sociedade. Mas atualmente está ao serviço dos que exploram os
cidadãos, cujos direitos estão a ser encurtados para que os detentores do
capital possam ditar as suas leis de “mercado”, ou seja, aplicar as receitas da
especulação lucrativa ditada pelas “praças financeiras”.
Estão a ser roubados direitos fundamentais
sobretudo aos que não têm culpa da situação de depressão económica que foi
causada pela ganância e descontrolo dos “mercados”.
O Estado “em primeiro lugar deve defender as
pessoas, os seus direitos e a sua dignidade e a capacidade de ser feliz”…”o
dinheiro não é tudo na vida, há uma inversão de valores, a subalternização das
pessoas em detrimento de um projeto político.” (Padre Jardim Moreira)
Apesar do quadro negro, nunca terá havido na
sociedade portuguesa uma convergência tão clara da necessidade de inverter esta
situação.
E em muitos a convicção que é preciso transformar
a força em energia!
Quando os dias se tornam azedos
Não me digas que nunca sentiste
Uma força a crescer-te nos dedos
E uma raiva a nascer-te nos dentes
Não me digas que não me compreendes”
(Sérgio Godinho – “Que força é essa” – álbum “irmão do meio”)
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