«Para que uma criança mantenha vivo o seu sentido inato do que é maravilhoso sem que lhe tenha sido dado tal presente pelas fadas, ela necessita da companhia de pelo menos um adulto com quem possa partilhá-lo, redescobrindo com ele a alegria, o entusiasmo e o mistério do mundo em que vivemos.»
Assim preconiza Rachael Carson (1) no seu livro, “Maravilhar-se: reaproximar a criança da natureza” (The Sense of Wonder) quando nos propõe uma verdadeira lição sobre o que é essencial na educação para o ambiente e a Natureza.
Redescobrir com as crianças este nosso mundo, os mistérios que ele encerra e as especificidades de cada lugar é uma demanda que deveria ser considerada, não como um acessório, mas uma obrigação da escola atual.
Se ao estudar a constituição de uma flor uma criança conseguir entender a importância que ela tem para que novas plantas surjam, o seu olhar sobre a flor mudará, porque será mais completo e, certamente, mais respeitador. Compartimentar os saberes é sempre redutor. António Gedeão (2), no seu “Poema das árvores” demonstra sabiamente como o todo é muito mais que a soma das partes e nos “avisa” do saber que nos liga ao sentimento e vice-versa.
“As árvores crescem sós. E a sós florescem.
Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes, e as sementes preparam novas árvores.
(…)"
O livro que hoje recomendo foi coeditado pela Campo Aberto e pelas Edições Sempre-em-Pé e foi apresentado por Viriato Soromenho-Marques, a 23 de janeiro deste ano, em Lisboa, na Faculdade de Ciências.
A edição teve apoio do Programa Gulbenkian Ambiente da Fundação Calouste Gulbenkian.
(1) Rachael Carson (1907 – 1964), zoóloga, bióloga e escritora americana reconhecida como principal impulsionadora do movimento global sobre o Ambiente.
(2) António Gedeão, pseudónimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho (1906 – 1997), químico, professor, pedagogo, investigador, divulgador da ciência e poeta. O dia do seu nascimento foi adotado em Portugal como Dia Nacional da Cultura Científica.
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