Um pianista com experiência demoraria várias semanas de
estudo intenso para conseguir tocar com qualidade uma grande obra de um
compositor conceituado como Mozart ou Beethoven. É preciso perceber a estrutura
da peça, que partes se devem realçar e até talvez memorizar páginas e páginas
de música. O tempo de estudo pode variar entre as 3, 4, 6 ou até 10 horas por
dia devido à dificuldade de execução da peça e seria de imaginar que tal
complexidade teria demorado um número igual de horas na sua composição…
Entre mitos e verdade suspeita-se que Mozart e Beethoven se
terão encontrado em Viena em 1787. Beethoven, ainda novo, tocou para o mestre
que tanto admirava e este não se surpreendeu com o jovem talento uma vez que
tinha apresentado uma peça previamente estudada. Ludwig terá pedido então que
lhe fosse dado um tema para improvisar e aí sim Mozart reconheceu o músico
dizendo que iria fazer nome no mundo.
É irrelevante para aqui se este evento aconteceu mesmo ou
não. O que importa é que era comum no século XVIII (e antes disso) improvisar
peças inteiras ao piano/cravo. Grandes obras de W. A. Mozart como as sonatas nº 16 em Dó M e nº11 em Lá M são muito provavelmente diferentes
do original uma vez que o compositor pode simplesmente não ter tido tempo de as
escrever depois de as compor sentado ao pianoforte.
Recuemos a 1747. Frederico II da Prússia recebe J.S. Bach (o
compositor da famosa fuga em Ré menor) e desafia-o a improvisar uma fuga a
6 vozes sobre um tema seu. Bach, o mestre da fuga, recusou afirmando que não
era capaz de o fazer com aquele tema (sem revelar que, na verdade, as fugas a
mais de 4 vozes eram muito incomuns). Sendo ele um ótimo improvisador era capaz
de ouvir um tema e rapidamente perceber o que se podia fazer a partir dali.
Frederico II, convencido que tinha proposto um tema que nem o próprio Bach
conseguia usar, acabou por passar por ignorante sem o saber.
Contos como estes surgem em várias épocas da história da
música. O diabólico Paganini e o virtuoso Mauro Giuliani eram ambos
“super-estrelas” na primeira metade do século XIX. Durante um Carnaval em Roma
terão feito atuações improvisadas mas mais interessantes eram talvez os seus
encontros frequentes que compreendiam tardes inteiras de improvisação, por
vezes até trocando os seus instrumentos (Paganini à guitarra e Giuliani com o
violino).
Qualquer um dos músicos aqui mencionados despendia grande
parte do dia dedicando-se à música. Apesar da improvisação/composição parecer
algo essencialmente proveniente da inspiração, (chegando-se a pensar no séc.
XIX que um compositor podia passar meses sem compor e subitamente imaginar uma
sinfonia inteira) na verdade é algo que tem por base a técnica. A improvisação
aprende-se e treina-se até porque há quem diga que não há música bonita ou feia
mas sim bem ou mal feita.
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