Como tema de “conversa” para
esta semana, optei por um tópico que ligasse todo o progresso científico e
tecnológico que se tem observado nas últimas décadas a aplicações na Medicina e
eis que me encontro a escrever sobre Próteses. Uma Prótese é o que, em
Medicina, se chama a qualquer extensão artificial que substitua uma parte do
corpo perdida num trauma ou ausente desde o nascimento.
Poder-se-ia pensar que o
desenvolvimento das Próteses é resultado da evolução científica e tecnológica
que se verificou depois da Segunda Grande Guerra, mas na verdade a sua origem
remonta às antigas civilizações Egípcias, Gregas e Romanas. Mas é claro que a
utilização de materiais como ferro, aço, cobre e madeira deu lugar ao uso de
materiais mais leves e resistentes como a fibra de carbono e o alumínio, e que as
próprias limitações funcionais dos modelos da época foram superadas com a
introdução de controlos hidráulicos e pneumáticos e de microprocessadores
computorizados, de tal forma que as Próteses têm sofrido um progresso
exponencial nos últimos tempos.
Devo admitir que, à primeira vista, esta não parece ser uma temática
muito interessante mas, na minha opinião, um assunto é sempre desinteressante
até que se comecem a fazer as perguntas certas. Começamos com uma simples…
Se as Próteses têm sofrido
uma tão grande evolução, porque não são divulgados os achados?
Os achados são divulgados,
com certeza. Apenas não o são em meios que cheguem à maioria do público, sendo
a sua apresentação feita em publicações e conferências que só à comunidade
científica interessam. E a informação que de facto chega ao resto do público
é escolhida muito seletivamente. E a razão para tal é muito simples. Por mais
magníficos que sejam os aparelhos apresentados, eles constituem um serviço que
será sempre personalizado, e isso implica custos de produção muito elevados, que
quanto menos revelados, melhor.
E continuamos com as interrogações…
Existe, então, alguma
utilidade em continuar a investir no desenvolvimento das Próteses?
Absolutamente! O estilo de
vida que nós, civilização em global, levamos faz com que seja imperativo o
desenvolvimento deste tipo de aplicações. Se enumerarmos guerras, acidentes de trabalho,
acidentes de viação, defeitos congénitos, conseguimos elaborar uma lista de
razões para apostar nestas iniciativas.
Até que chegamos ao cerne das discussões…
Mas se a tecnologia atual
possibilita o fabrico de Próteses que permitem a um amputado ter uma vida
virtualmente sem restrições e se o custo de produção constitui o principal
entrave à disponibilização dessas Próteses, porque não investir um pouco na
procura de materiais que ofereçam uma igual eficácia mas a um menor custo? Esta
pergunta é imediatamente seguida de outra: não é isso que se faz na atualidade?
Surpreendentemente, não. Há
já algum tempo que a diminuição do custo de produção deixou de ser objetivo
primordial e passou para segundo plano, dando lugar a outros alvos, uns que são
resultado da tão caraterística megalomania da civilização. É que produzir
Próteses que possibilitassem uma vida “normal” aos amputados deixou de ser
motivação suficiente e os investigadores procuram agora melhorar as Próteses de
modo a que estas permitam desempenhos sobre-humanos.
Para quem pensa que isso é
impossível, existem estudos que demonstram que velocistas Paraolímpicos com
Próteses desenvolvidas com a mais recente tecnologia têm um consumo energético
25% menor que os velocistas regulares. Perante estes resultados, os
investigadores alegram-se e a sua mente enche-se de possibilidades, e a aposta
em investigação deste tipo ganha cada vez mais ênfase.
O rumo por onde tem
enveredado a investigação neste campo tem sido alvo de muito debate pois
teme-se que as Próteses comecem a ser desenvolvidas para fins que não os
medicinais. Por exemplo, teme-se que passem ser utilizadas para o melhoramento funcional
de indivíduos saudáveis de modo a criar uma “Super Raça”.
Mais uma vez, para quem
pensa que isso não é possível, em 2002, um investigador britânico introduziu em
si próprio um conjunto de elétrodos que lhe permitiram o perfeito controlo de
um braço robotizado. Como resultado, desenvolveram-se comités que, até hoje,
discutem se é eticamente correto, ou até mesmo desejável, o desenvolvimento
científico para estes fins.
Estaremos nós longe de
habitar uma sociedade parcialmente Biónica ou será apenas uma questão de tempo?
Será moralmente aceitável amputar um indivíduo saudável com a finalidade de instalar
uma Prótese que melhore as suas funções? Será justo interromper o
desenvolvimento científico dessas Próteses? Não será mais importante o
progresso tendo em vista cortes no custo de produção? Estas são perguntas que
requerem reflexão e cujas respostas variam de pessoa para pessoa, de acordo com
a visão que tem do mundo, e são com elas que vos deixo. Até à próxima!
Para os interessados em
saber como se faz a montagem de uma Prótese nos dias que correm…
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