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sábado, 9 de fevereiro de 2013

TRANStorno de identidade do género (sEXUALIDADE)

por Filipa Lima


Enquanto pesquisava sobre a transexualidade e transtornos de identidade do género fiquei surpreendida com a quantidade de teorias e estudos que existem sobre o assunto. Havia informação suficiente para restringir os meus textos aqui no blog a esse assunto, contudo decidi abordar o tema focando apenas aspetos mais científicos. Deixo o desafio aos meus colegas do id est para escreverem sobre a componente mitológica, histórica e filosófica.

A transexualidade é um tipo de transtorno de identidade do género, em que o indivíduo se identifica com o sexo oposto ao que lhe foi designado ao nascimento, de acordo com os seus caracteres sexuais. É importante salientar que o transexualismo não pode nem deve ser confundido com travestismo ou homossexualidade, havendo uma enorme diferença entre estes 3 conceitos: no travestismo o indivíduo não sente a sua identidade de género trocada (por exemplo, homem com corpo de homem e sentindo-se homem), mas usa roupas do sexo oposto com o objetivo de ter prazer erótico, para se excitar. Apenas em casos em que a pessoa passa a vestir-se como mulher a maior parte do tempo e a ter dúvidas e sofrimento em relação à sua identidade de género é que se deve pensar que possa haver transexualismo latente. Já no homossexualismo, a pessoa também se sente adequada quanto à determinação do seu sexo (tem corpo de homem e sente-se homem), porém tem atração afetiva e erótica por outras pessoas do mesmo sexo que ela.

Para um indivíduo ser diagnosticado com transtorno de identidade do género tem de ter os 4 componentes descritos a seguir:
  •        Uma forte e persistente identificação no género oposto;
  •        Sentir um enorme desconforto com o género que lhe foi atribuído ao nascimento;
  •       Esse desconforto não deve estar relacionado com nenhuma alteração cromossómica ou nos órgãos genitais, como por exemplo o hermafroditismo;
  •        Esse desconforto traz bastante sofrimento e prejuízo ao seu dia a dia.

Desta forma, o diagnóstico de um transexual nada tem a ver com a sua orientação sexual, podendo existir um homem que se identifica como mulher e se sente atraído por homens, portanto um transexual heterossexual ou um homem que se identifica como mulher e se sente atraído por mulheres, logo um transexual homossexual. Há ainda indivíduos, que mudam a sua preferência sexual após a transição, enquanto outros permanecem iguais.




O diagnóstico médico de um transexual é fundamental para uma melhor qualidade de vida destes indivíduos. Antes de mais, concede-lhes uma certificação da condição médica, que lhes irá facilitar o dia-a-dia, como permitir mudar o nome social (nome pelo qual as pessoas com transtorno de identidade do género preferem ser chamadas, enquanto o nome oficialmente registado não puder ser mudado) ou possuir o direito de usar a fila ou a casa de banho do género alvo, se assim o desejarem. Permite ainda o acesso a tecnologia e recursos médicos necessários para a transição de género, assim como um maior apoio pelos sistemas de saúde que irão ter em conta a situação como “medicamente necessária” e não como um capricho.

Os custos para fazer a transição de género são bastante elevados, por exemplo, para um homem transitar para mulher terá como gastos (valores nos EUA, convertidos de dólares para euros):
·       Custo da cirurgia – 12 630.45 euros
·       Terapia – 743 euros
·       Hormonas e tratamento – 1115.18 euros
·       Consultas médicas – 371.72 euros
o   Total: 14 860 euros

Estes valores demonstram a enorme importância do diagnóstico para que os sistemas de saúde comparticipem estes tratamentos. De salientar, que a lista cima é apenas uma pequena parte, pois um indivíduo com transtorno de identidade do género tem de passar por:
  1. Aconselhamento psicológico durante todo o processo de transição;
  2. Terapia hormonal de ajustamento;
  3. Consultas médicas para monitorização do tratamento hormonal;
  4. Tratamentos a laser para remoção dos pelos faciais e cirurgia para aumento mamário em mulheres transexuais;
  5. Próteses penianas e testiculares em homens transexuais;
  6. Mastectomia bilateral e reconstrução mamária;
  7. Cirurgia de reconstrução dos genitais;
  8. (…)

As causas da transexualidade ainda não estão bem definidas, há quem defenda que se deve a causas físicas, outros afirmam que se deve apenas a fatores psicológicos. As evidências que apoiam as causas físicas são a exposição a hormonas sexuais cruzadas durante o desenvolvimento fetal (exposição a testosterona em feto do sexo feminino e progesterona ou estrogénios em feto do sexo masculino), levando ao desenvolvimento de comportamentos sexuais também cruzados. Também estudos em gémeos têm demonstrado uma forte origem hereditária para a transexualidade. Desta forma, julga-se que a transexualidade pode ser determinada, em parte pela genética e em parte pelo ambiente hormonal no útero. Por sua vez, há quem diga que a dualidade de géneros é uma construção humana, assim como a dualidade de sexos. Fisicamente ninguém seria estritamente masculino ou feminino, sendo a intersexualidade (“qualquer variação de caracteres sexuais incluindo cromossomas, gónadas e / ou órgãos genitais que dificultam a identificação de um indivíduo como totalmente feminino ou masculino”) o exemplo mais óbvio de pessoas com constituições que não são tipicamente masculinas ou femininas. Segundo este ponto de vista também a variedade nos físicos das pessoas e a própria constituição biológica dos homens e mulheres, a similaridade dos corpos, mostra que estes não são estritamente definidos. Assim, os defensores das causas psíquicas afirmam que o estudo das causas físicas estigmatiza todos os que não se conformam com a rígida divisão de géneros e tende a defender a não-binariedade tanto física quanto psíquica.

Ainda há um longo caminho a percorrer no que se refere ao estudo dos transtornos de identidade do género, não estando ainda bem definida a diferença entre identidade e o papel social do género. Estima-se que um em cada 37 mil homens e uma em cada 100 mil mulheres seja transexual, embora não pareça um número elevado, há que ter a noção de que estas pessoas existem e que embora ainda não se saiba a causa para este tipo de transtorno, os tratamentos já são possíveis.

Deixo aqui alguns vídeos para quem tiver curiosidade sobre o tema:



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