Enquanto pesquisava sobre a transexualidade e transtornos
de identidade do género fiquei surpreendida com a quantidade de teorias e
estudos que existem sobre o assunto. Havia informação suficiente para restringir
os meus textos aqui no blog a esse assunto, contudo decidi abordar o tema
focando apenas aspetos mais científicos. Deixo o desafio aos meus colegas do id est para escreverem sobre a
componente mitológica, histórica e filosófica.
A transexualidade é um tipo de
transtorno de identidade do género, em que o indivíduo se identifica com o sexo
oposto ao que lhe foi designado ao nascimento, de acordo com os seus caracteres
sexuais. É importante salientar que o transexualismo não pode nem deve ser
confundido com travestismo ou homossexualidade, havendo uma enorme diferença
entre estes 3 conceitos: no travestismo o indivíduo não sente a sua identidade
de género trocada (por exemplo, homem com corpo de homem e sentindo-se homem),
mas usa roupas do sexo oposto com o objetivo de ter prazer erótico, para se
excitar. Apenas em casos em que a pessoa passa a vestir-se como mulher a maior
parte do tempo e a ter dúvidas e sofrimento em relação à sua identidade de
género é que se deve pensar que possa haver transexualismo latente. Já no
homossexualismo, a pessoa também se sente adequada quanto à determinação do seu
sexo (tem corpo de homem e sente-se homem), porém tem atração afetiva e erótica
por outras pessoas do mesmo sexo que ela.
Para um indivíduo ser diagnosticado
com transtorno de identidade do género tem de ter os 4 componentes descritos a
seguir:
- Uma forte e persistente identificação no género oposto;
- Sentir um enorme desconforto com o género que lhe foi atribuído ao nascimento;
- Esse desconforto não deve estar relacionado com nenhuma alteração cromossómica ou nos órgãos genitais, como por exemplo o hermafroditismo;
- Esse desconforto traz bastante sofrimento e prejuízo ao seu dia a dia.
Desta forma, o diagnóstico de um
transexual nada tem a ver com a sua orientação sexual, podendo existir um homem
que se identifica como mulher e se sente atraído por homens, portanto um
transexual heterossexual ou um homem que se identifica como mulher e se sente
atraído por mulheres, logo um transexual homossexual. Há ainda indivíduos, que
mudam a sua preferência sexual após a transição, enquanto outros permanecem
iguais.
O diagnóstico médico de um
transexual é fundamental para uma melhor qualidade de vida destes indivíduos.
Antes de mais, concede-lhes uma certificação da condição médica, que lhes irá
facilitar o dia-a-dia, como permitir mudar o nome social (nome pelo qual as
pessoas com transtorno de identidade do género preferem ser chamadas, enquanto
o nome oficialmente registado não puder ser mudado) ou possuir o direito de
usar a fila ou a casa de banho do género alvo, se assim o desejarem. Permite
ainda o acesso a tecnologia e recursos médicos necessários para a transição de
género, assim como um maior apoio pelos sistemas de saúde que irão ter em conta
a situação como “medicamente necessária” e não como um capricho.
Os custos para fazer a transição
de género são bastante elevados, por exemplo, para um homem transitar para
mulher terá como gastos (valores nos EUA, convertidos de dólares para euros):
·
Custo da cirurgia – 12 630.45 euros
·
Terapia – 743 euros
·
Hormonas e tratamento – 1115.18 euros
·
Consultas médicas – 371.72 euros
o
Total: 14 860 euros
Estes valores demonstram a enorme
importância do diagnóstico para que os sistemas de saúde comparticipem estes
tratamentos. De salientar, que a lista cima é apenas uma pequena parte, pois um
indivíduo com transtorno de identidade do género tem de passar por:
- Aconselhamento psicológico durante todo o processo de transição;
- Terapia hormonal de ajustamento;
- Consultas médicas para monitorização do tratamento hormonal;
- Tratamentos a laser para remoção dos pelos faciais e cirurgia para aumento mamário em mulheres transexuais;
- Próteses penianas e testiculares em homens transexuais;
- Mastectomia bilateral e reconstrução mamária;
- Cirurgia de reconstrução dos genitais;
- (…)
As causas da transexualidade
ainda não estão bem definidas, há quem defenda que se deve a causas físicas,
outros afirmam que se deve apenas a fatores psicológicos. As evidências que
apoiam as causas físicas são a exposição a hormonas sexuais cruzadas durante o
desenvolvimento fetal (exposição a testosterona em feto do sexo feminino e
progesterona ou estrogénios em feto do sexo masculino), levando ao
desenvolvimento de comportamentos sexuais também cruzados. Também estudos em
gémeos têm demonstrado uma forte origem hereditária para a transexualidade.
Desta forma, julga-se que a transexualidade pode ser determinada, em parte pela
genética e em parte pelo ambiente hormonal no útero. Por sua vez, há quem diga
que a dualidade de géneros é uma construção humana, assim como a dualidade de
sexos. Fisicamente ninguém seria estritamente masculino ou feminino, sendo a
intersexualidade (“qualquer variação de caracteres sexuais
incluindo cromossomas, gónadas e / ou órgãos
genitais que dificultam a identificação de um indivíduo como
totalmente feminino ou masculino”) o exemplo mais óbvio de
pessoas com constituições que não são tipicamente masculinas ou femininas.
Segundo este ponto de vista também a variedade nos físicos das pessoas e a
própria constituição biológica dos homens e mulheres, a similaridade dos
corpos, mostra que estes não são estritamente definidos. Assim, os defensores
das causas psíquicas afirmam que o estudo das causas físicas estigmatiza todos os
que não se conformam com a rígida divisão de géneros e tende a defender a
não-binariedade tanto física quanto psíquica.
Ainda há um longo caminho a
percorrer no que se refere ao estudo dos transtornos de identidade do género, não
estando ainda bem definida a diferença entre identidade e o papel social do género.
Estima-se que um em cada 37 mil homens e uma em cada 100 mil mulheres seja
transexual, embora não pareça um número elevado, há que ter a noção de que
estas pessoas existem e que embora ainda não se saiba a causa para este tipo de
transtorno, os tratamentos já são possíveis.
Deixo aqui alguns vídeos para
quem tiver curiosidade sobre o tema:
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