para aceder à primeira parte do artigo, clique aqui.
Em
jeito de continuidade com o texto do mês passado, continuarei a falar da arte
Namban. Na parte um deu-se um breve parecer sobre o que esta era, nesta segunda
parte irá falar-se sobre as diversas tipologias desta mesma arte. Para uma
melhor visualização da vasta informação, começo por deixar um esquema:
Podemos
ver então, que existem duas grandes categorias: a arte Kirishtan, os artefactos
de origem sacra, e arte Namban na sua vertente utilitária.
Começaremos
por descrever a primeira categoria. Esta divide-se em três grupos, o mobiliário
litúrgico onde pertencem as estantes, a sua forma não varia muito, o que já não
se pode dizer em relação à decoração, sempre presente o símbolo da Companhia de
Jesus; as caixas de Hóstias das quais se faziam um grande número, todas dentro
do mesmo tamanho (9 a 10 centímetros) e com a mesma decoração (lacadas com
uxuri, decoração a maquié e madrepérola) e nunca esquecendo o símbolo da
Companhia de Jesus; os oratórios com pinturas a óleo no interior, de 50 por 40
centímetros, que são inseridas numa armação de meias portas decoradas em ouro,
prata, madrepérola. Finalizados com um frontão, geralmente, triangular e que
ostentam ou a pomba do espírito santo, o símbolo da Companhia de Jesus ou uma
cruz. Esta era a base geral, alguns podiam, claro, ser mais complexos e
apresentar mais elementos arquitetónicos, e cofres para guardar Santos, já
variavam no tamanho e a decoração não escapava muito ao que foi dito acima.
O
segundo grupo são as pinturas, estas faziam parte dos oratórios (e não só)
apresentam traço maneirista, o que se reflete no alongamento das figuras, com
feições calmas e de olhar baixo.
E,
finamente, o terceiro as gravuras e livros, que tendo em conta a temática,
serviria para instruir, fazer propaganda da religião e eram ornamentação para
livros. Existem muitos exemplos bem conservados desta arte, e muitos das
gravuras eram utilizados como quadros decorativos.
Na
segunda categoria, arte namban de vertente utilitária temos, objetos comuns,
como cadeiras, mesas (uma inovação para os japoneses) e baús que começam a ter
tampas abauladas. A pintura e a gravura que não divergem muito da que foi
descrita acima, mas simplesmente usadas para outros propósitos sem ser os
religiosos. E, finalmente, os biombos. São a mais conhecida forma de arte
namban, apesar de já existirem antes da chegada dos portugueses ao Japão,
depois deste acontecimento a sua popularidade atingiu novos níveis, bem com as
técnicas e temas utilizados. A sua estrutura pesada evoluiu para uma mais leve,
mais prática e tornaram-se mais versáteis, passaram a retratar temas nambans,
quer momentos do dia a dia, como a chegada dos portugueses, as trocas
comerciais, os missionários. E foi nesta altura que, pela primeira vez, a figura
humana tomou uma posição de relevo na pintura dos biombos.
Esta
é uma visão muito simplificada e generalizada, e para aprofundamento do tema,
aconselho as obras por onde me segui:
- DIAS,
Pedro, História da Arte Portuguesa no
Mundo (1415-1822): O Espaço do Índico, Lisboa, Círculo de Leitores, 1998,
pp. 455-500
- JANEIRA, Armando
Martins, Figuras de silêncio: a tradição cultural portuguesa no Japão de
hoje, Lisboa, Junta de Investigações Científicas do Ultramar, 1981, pp.
39-49, 73-80
-
PINTO, Maria Helena Mendes, Arte Namban:
Os portugueses no Japão, Lisboa, Fundação do Oriente, 1990
-
SOBRAL, Luís de Moura, “Os Bárbaros do Sul no Japão: A Arte Namban” in A expansão marítima portuguesa, 1400-1800,
Lisboa, Edições 70, 2010, pp. 429 – 434
Sem comentários:
Enviar um comentário