Estava eu recentemente numa
aula de Propedêutica Comunitária a ouvir uma apresentação sobre prevenção
primária e educação para a saúde quando o Doutor afirma que mensagens
antitabaco do estilo “fumar causa rugas” são mais passíveis de fazer um
individuo parar de fumar que mensagens do tipo “não fumar diminui a
probabilidade de vir a ter cancro do pulmão”.
Comecei de imediato a
questionar-me como era possível o cancro ser preferível às rugas… E no meio da
minha derivação, recordações de tempos passados, memórias da Secundária e de
temáticas sobre o comportamento… E é destas que vos venho falar!
Descrito por Skinner em 1937
como “um comportamento que é inicialmente espontâneo, em vez de uma resposta a
um estímulo prévio, mas cujas consequências podem reforçar ou inibir a sua
recorrência”, o Condicionamento Operante, ou Condicionamento Instrumental,
refere-se a um tipo de aprendizagem comportamental na qual o comportamento de
um indivíduo é modificado pelas consequências desse mesmo comportamento
Essa modificação pode ser em
forma comportamental (i.e. tipo do comportamento), em frequência comportamental
(i.e. número de vezes que se repete o comportamento) e em intensidade comportamental
(i.e. duração do comportamento).
Para descrever a mudança
comportamental fala-se, então, de Reforço (consequência que cause o aumento de
frequência de um comportamento) e de Punição (consequência que cause a diminuição
da frequência de um comportamento), sendo que tanto o Reforço como a Punição
poderão ser Positivos (impostos após o comportamento) ou Negativos (retirados
após o comportamento).
Existem, assim, quatro
procedimentos básicos na aprendizagem pelo Condicionamento Operante:
- O Reforço Positivo ou Reforço - um comportamento é seguido por um estímulo recompensador, aumentando a frequência do comportamento;
- O Reforço Negativo ou Escape - um comportamento é seguido pela remoção de um estímulo aversivo, aumentando a frequência do comportamento;
- A Punição Positiva ou Punição - um comportamento é seguido por um estímulo aversivo, diminuindo a frequência do comportamento;
- A Punição Negativa ou penalidade - um comportamento é seguido pela remoção de um estímulo apetecível, diminuindo a frequência do comportamento.
Existe, ainda, um quinto
procedimento, a Extinção, em que um
comportamento que não tenha consequências, favoráveis ou desfavoráveis, terá uma
diminuição na sua frequência, o mesmo acontecendo em comportamentos que tenham
um cessar dos Reforços Positivo ou Negativo.
Se recuperarmos, agora, as
mensagens antitabaco, percebemos que estas funcionam tendo por base o
Condicionamento Operante, ao tentarem aumentar a frequência de um comportamento
desejável (o não fumar) pela atribuição a esse comportamento de uma ocorrência
favorável (o não ter cancro) ou, pelo contrário, ao tentarem diminuir a
frequência de um comportamento indesejável (o fumar) pela associação a esse
comportamento de uma ocorrência desfavorável (o ter rugas).
Quando dei por mim, o Doutor
havia continuado a apresentação dizendo que isto acontece porque “a sociedade age
para não ter prejuízos antes de agir para ter benefícios”. Foi aí que me
apercebi que esta não era uma questão do conteúdo da mensagem mas antes uma
questão da forma como a mesma era apresentada, uma questão da Condição Humana e
da sua inerente predisposição para atuar sob o princípio de autopreservação, para
atuar sob o princípio de não ter danos imediatos.
E eis que me surgiu outra
questão: como se tornou o princípio de não ter prejuízo a diretiva de ação do
Homem quando a Razão nos diz que a longo prazo o princípio de ter benefício é
mais desejável? E é com esta pergunta que vos deixo… Até uma próxima!
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