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sábado, 20 de abril de 2013

O papel da Ciência no Desporto

por Miguel Furtado


Desde sempre que o desporto é caracterizado, de entre inúmeras outras vantagens, pela busca da superação pessoal, de vitórias colectivas, estando nisto intrínseco o factor competitivo.

Cristiano Ronaldo, imagem de marca de um atleta potenciado em “laboratório”
É graças ao contínuo desenvolvimento do conhecimento desportivo que os atletas de hoje estão preparados para, não só ultrapassar os do passado, mas também desafiar os limites da gravidade, do tempo, da força ou da resistência física. Este desenvolvimento deixou de ocorrer apenas empiricamente, para passar a basear-se profundamente da Ciência. De facto, a investigação realizada no âmbito da Fisiologia, da Medicina Desportiva, bem como o avanço tecnológico, permite a estes atletas melhorar as técnicas de treino e os equipamentos utilizados. A Ciência permite “construir” um atleta potenciando-o fisicamente e equipando-o com materiais de alta tecnologia, essenciais quando este atinge o máximo da sua capacidade.
Também tem levado ao surgimento de novos desportos como o paintball e uns quantos designados de radicais.

Entre os métodos de treino inovadores destaque para o treino em altitude. Como o nome indica, consiste em realizar o exercício físico em zonas substancialmente elevadas, onde o oxigénio é mais rarefeito. Este método faz com os níveis de Eritropoietina (EPO) do atleta sejam mais elevados, provocando um aumento de glóbulos vermelhos, o que causa uma melhoria da resistência aeróbica. Assim, este obtém resultados consideravelmente melhores ao competir em zonas onde a percentagem de oxigénio é a normal, uma vez que o seu metabolismo “habitua-se” a trabalhar com menos oxigénio.

Altitrainer, aparelho concebido para treinar com défice de oxigénio
A Fisiologia e a Medicina também possibilitam conhecer as características “humanas” mais adequadas para determinados desportos, como prevenir de processos lesivos decorrentes do excesso de treino e, claro, cuidar de lesões de forma mais rápida e eficiente.

Não menos importante para a evolução do Desporto é o avanço tecnológico que se tem verificado. No entanto, se por um lado tem contribuído para a verdade desportiva, por outro causa, embora indirectamente, a heterogeneidade entre atletas ou equipas. A existência do Hawk Eye no Ténis, das placas electrónicas na Natação ou do Photo Finish no ciclismo e atletismo são alguns exemplos de sistemas que proporcionaram um aumento da qualidade dos resultados. Outro exemplo actualmente debatido é o uso da tecnologia de golo no futebol. Todavia existe uma grande disparidade entre os equipamentos utilizados pelos atletas, o que leva a que uns estejam melhor “munidos” para vencer, nomeadamente os que têm condições para investir na aquisição dos materiais topo de gama. Quanto mais caro for  maior é a diferença observada. Note-se, por exemplo, os desportos motorizados, onde as equipas com maior poder financeiro conseguem desenvolver veículos muito mais potentes e de condução mais fácil, que as restantes, além de atrairem o staff e pilotos mais qualificados. De há um tempo para cá que há uma tentativa por parte das federações internacionais de diversos desportos em equilibrar a balança, de homogeinizar as condições dos participantes e também para a sua própria segurança, ao estabelecer. regras e restrições aos equipamentos.

Hegemonia de Michael Schumacher e da Scuderia Ferrari entre 2000 e 2004
Outro exemplo é o recente uso de fatos de poliuretano ou “super fatos” na Natação, banidos da competição desde 2010. Em apenas um ano e meio caíram 174 recordes do mundo com a utilização deste equipamento de ”borracha”, em parte desenvolvido com a colaboração da NASA. 43 caíram numa única competição, o Mundial de Roma em 2009, considerado o seu apogeu.

Os fatos proporcionavam uma maior flutuabilidade, recuperação muscular e, consequentemente,  melhor performance
Estes exemplos trazem “à tona” questões preocupantes: até que ponto este desenvolvimento é justo e traduz a realidade do Desporto? A partir de que limite se deixa de atribuir o mérito da conquista ao atleta, mas sim ao equipamento utilizado? Também a evolução trazida pela Fisiologia e Medicina merece ser reflectida, por causa, naturalmente, do doping.
Os conhecidos casos da utilização de substâncias dopantes, como doses da já referida EPO, testosterona ou esteróides, são também exemplos de aplicação da Ciência no Desporto, apesar de puníveis tanto a nível legal como moral.

Lance Armstrong, banido eternamente e com todos os seus resultados anulados desde Agosto de 1998, por uso e distribuição de doping
Para finalizar, de referir que a indústria desportiva investe fortemente no atleta tecnológico, criando todo o tipo de materiais desde tecidos que facilitam a evaporação do suar, bicicletas aerodinâmicas até chips que registam a posição instantânea dos atletas que pode servir para fins de avaliação ou jornalísticos. Hoje, sem tirar mérito aos atletas de alto nível, o factor decisivo na história dos recordes e conquistas é o desenvolvimento da tecnologia e o conhecimento proveniente da Ciência do Desporto.

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