A Filosofia costuma ser vista como uma actividade
característica de eruditos com óculos na ponta do nariz, cabelos sebosos e
despenteados e abstinentes sexuais. Sem menosprezo para aqueles que assim
foram, temos vindo a verificar que essa realidade está a ser alterada com o
tempo. Os filósofos adaptaram-se à contemporaneidade, deixando de viver num
mundo imaginário onde só eles e os seus pares habitam.
Considero que para se ser um bom filósofo, tem que se ter
uma grande dose de realidade e de organização prática. Fazer filosofia é pensar
sobre as várias perspectivas de um mesmo problema e fazê-lo evoluir, seja com o
levantamento de outras questões ou com a concretização de respostas bem
argumentadas logicamente. É sobre a base da lógica que se sustem o bom sistema
filosófico, dado que sem ela, seria impossível verificar a coerência
argumentativa. Digamos que a lógica é a mãe da filosofia, na medida em que é
ela que ampara uma qualquer queda que a filosofia possa dar e, assim, fazer
‘nódoas negras’ na estrutura do conhecimento.
Quem nunca se riu quando alguém diz que quem tem unhas, toca
viola, quem tem unhas, tem mãos, quem tem mãos, tem braços, quem tem braços,
tem pernas, portanto se as cadeiras têm pernas, as cadeiras tocam viola? Este é
o exemplo perfeito que confirma a importância da lógica na filosofia.
Mas não é só em exemplos logicamente tontos que a filosofia
funciona. Pelo contrário, ela trabalha com problemas reais (por exemplo, a
questão ética acerca do aborto ou da eutanásia, tão comuns hoje em dia) e tenta
dar-lhes um rumo para que qualquer pessoa possa pensar com todas as ferramentas
possíveis. Ao fim ao cabo, ser filósofo é possuir mais ferramentas de
pensamento do que o habitual para se poder seguir uma linha de pensamento mais
segura e tomar decisões. Ser-se filósofo não é responder a uma questão com
‘depende’, mas dizer-se ‘a)’ porque ‘x’, y’ e ‘z’. Claro que para se chegar a
esta conclusão, é preciso reconhecer-se ‘b)’ e ‘c)’ e determinar o erro de
raciocínio desses argumentos.
É exactamente isto que pretendo fazer ao longo dos textos
que exporei aqui no blogue: tentar guiar-vos pela linha de raciocínio que eu
considero correcta. É verdade que não será tarefa fácil, já que qualquer pessoa
é falível. Assim, conto com as vossas argumentações e comentários aos textos.
Porque não é na solidão do pensamento e do raciocínio que se constroem fortes
argumentos.
Ora aí está, querida Laura, nem mais. Haja vista, ou melhor, leitura «A Vida Sexual de Immanuel Kant», do colega Jean-Baptiste Botul.
ResponderEliminarJá era tempo de os filósofos e filósofas irem direitos e direitas à coisa propriamente dita por excelência, antigamente: coisa em si.