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sábado, 23 de junho de 2012

Um Japão Português

por Bruna Valério

Será que podemos falar de um Japão português, ou de um Japão aportuguesado, durante o período dos Descobrimentos? Sou da opinião que sim. Para começar, os portugueses foram os descobridores das ilhas do Sol Nascente, apesar de ter sido por mero acaso, fomos o primeiro povo europeu a ter contato com os japoneses. O que, logicamente, não quer dizer nada à partida, pois a partir da sua descoberta e do seu conhecimento geográfico exato todas as nações europeias estariam livres de também tentarem a sua sorte no Japão. No entanto, é de realçar que desde 1543, data da chegada dos portugueses a Tanegashima, até 1609 data da fixação dos holandeses em Hirado, os lusitanos foram o único povo com presença no Japão.

Por termos sido bem recebidos, a presença portuguesa aumentou exponencialmente desde a sua chegada, fazendo-se sentir em várias áreas: na propagação de armas de fogo, desconhecidas pelos japoneses que rapidamente aprenderam a fabricá-las, bem como à pólvora, dedicando-se ao seu comércio. No comércio, que resultou na consequente abertura do Japão, levando os produtos japoneses para a Europa, e vice-versa. Portugal levava diversos produtos, como o tabaco e o sabão, que aguçavam os nativos, que começaram a disputar entre si por uma maior presença portuguesa nos seus territórios. Os lusitanos tinham então uma posição privilegiada, levando para a China a prata japonesa em troca da seda chinesa, os portugueses conseguiam lucrar dos dois países. A religião também teve grande importância, pois desde cedo a missionação no Japão começou. Sendo o Cristianismo bem aceite, desenvolveu-se a maior cristandade do Padroado Português do Oriente no século XVI, e em 1588 a Santa Sé fundou a diocese do Japão com sede em Funai. Isto é importante, pois o Japão, que continuava independente, representava o maior território ultramarino controlado por poderes autóctones com uma cristandade constituída maioritariamente por nativos.

Como memória artística deste período temos a Arte Namban (japonês para homem bárbaro), é a arte feita no século Namban. De influências europeias, tanto em certas técnicas como a pintura a óleo, ou têmpera, como em temáticas, religiosas, como o culto mariano, ou do quotidiano, como a chegada dos portugueses ao Japão, a presença dos missionários.

Vemos então que a chegada dos portugueses foi um marco importante na história do Japão, importante o suficiente para merecer um destaque na arte. É de realçar que os portugueses também levaram para a Europa novas técnicas e materiais até então desconhecidos, mas para além disto em pouco mais vemos influência japonesa em Portugal. E tendo em conta o que foi descrito acima, embora de maneira muito breve, vemos que na relação luso-nipónica os portugueses foram claramente dominantes, abrindo um país que vivia sobre si mesmo, e fechado para o restante mundo.

Para aprofundamento do tema consultar os livros: João Paulo A. Oliveira e Costa, A descoberta da civilização japonesa pelos portugueses; do mesmo autor, O Japão e o Cristianismo no século XVI. Ensaios da história Luso-Nipónica.

Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.


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