Desde de 1901 até aos dias de hoje, foram atribuídos ao todo 853 Prémios Nobel a indivíduos e organizações que se distinguiram entre as áreas da física, química, fisiologia ou medicina, literatura, paz e, mais recentemente, economia. Deste total, 43 são mulheres, sendo que 16 distinguiram-se nas áreas da física (2), química (4) e medicina (10).
Uma análise do total de prémios atribuídos, tendo em conta o sexo dos nobelizados (Quadro 1), permite concluir que, desde 1901 a 2011, para cada 17 homens que ganharam um Prémio Nobel, apenas uma mulher foi premiada. A diferença entre nobelizados masculinos e femininos é ainda mais acentuada quando analisado o rácio na categoria das Ciências, onde para cada 34 homens existe apenas 1 mulher a receber o Prémio. É ainda de destacar que a diferença é menor nas categorias da Paz e na Literatura, onde mais mulheres obtiveram o prémio. Todavia, uma análise da evolução do número de mulheres nobelizadas ao longo das décadas (Quadro 2) revela que existe uma tendência para que mais mulheres venham a ser reconhecidas nas categorias várias. Só em 2010 e 2011 foi atribuído o prémio a 3 mulheres – número que outrora representava o total de nobelizadas de uma década.
Fonte: http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/
Quadro 2. Total de mulheres nobelizadas por década
Fonte: http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/
O reconhecimento do trabalho desenvolvido por mulheres cientistas surgiu tarde, o que é visível quando analisamos a evolução ao longo das décadas do número de mulheres nobelizadas. A questão do reconhecimento será apenas uma perspetiva de análise da história das mulheres pela ciência, levantando apenas um pouco o véu deste universo um tanto ou quanto desconhecido, que só há pouco tempo começa a revelar claros sinais que caminhamos para uma maior paridade de género. É também um indicador de uma transformação que ocorreu no seio da própria ciência.
A Ciência enquanto instituição social que tem como objetivos e método a produção de conhecimento entendidos como científicos, formalmente certificados como válidos, acabou por interiorizar uma estrutura de normas e valores que devem reger o trabalho dos cientistas – uma estrutura normativa que acabará por ser o ethos da ciência, como refere Robert K. Merton, composta por 4 imperativos: universalismo, comunalismo, desinteresse e ceticismo organizado. O reconhecimento do trabalho científico deveria, neste modelo ideal de ciência, vir acima da raça, da origem, do sexo, da religião ou ideologia, e os indivíduos enquanto cientistas deveriam ser reconhecidos pelo seu trabalho e pelo seu mérito. A base da comunidade científica seria, por conseguinte, a meritocracia. É claro que durante séculos as mulheres cientistas, muito devido ao próprio contexto social, cultural e religioso, não tiveram as mesmas oportunidades e o mesmo reconhecimento que os seus pares do sexo masculino. Contudo, mesmo no ambiente por vezes não muito inclusivo, cientistas provaram o seu valor, demonstrando-se pioneiras nas suas investigações - Marie Skłodowska Curie e Maria Goeppert Mayer, as únicas mulheres galardoadas com o Nobel da Física, serão exemplos disso.
Paralelamente, não se poderá desassociar o fato de que vivemos no momento da história caracterizado pelo maior número de cientistas mulheres e investigadoras que, com o seu trabalho e resultados, vão rompendo com o domínio masculino, em especial, nas áreas da ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Mas mesmo assim, poderemos falar ainda em igualdade? Poderemos ainda falar em igualdade quando algumas salas de aulas onde se lecionam cadeiras de engenharia, matemática, física, são ainda compostas na sua maioria por alunos do sexo masculino? Por que é que não existem então mais mulheres nas STEM fields?
Assunto para um próximo post.
Mas para já aqui fica a referência a um blog que me abriu o apetite por este assunto: http://thesocietypages.org/graphicsociology/2012/06/01/why-arent-more-women-in-stem/
Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico
Chamaram-me a atenção para o facto de em Portugal já se estar a verificar maior participação feminina nas aulas de ciência, a contrário do que acontece em outros (em todos? na maioria?) países.
ResponderEliminarInteressante, vou ver se encontro informação. :)
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