Por Mita Jacinto
Pois
e hoje o remanço é do lar esse afrodisíaco de eleição da leitura, entre os
rumores de gente que espinoteia cabriolando as férias que ansiou e agora esbanja na curva do sol, na esquina do
quotidiano que se tornou de repente não mais que veraneante ou nem isso, que é
por dever ser que agora ali está carregadas as prateleiras das chamadas, oh
tristeza, leituras de verão.
Tudo
isto a propósito ou a despropósito da literatura da vida e da morte dela nesta
era digital ou o que é o mesmo dizer: O Mal de Montano, Enrique
Vila-Matas.
Livro
que li nestes dias de aflição , de modorra e de calor para que brisa suave
da loucura lúcida, nos sopre as ideias empoeiradas
do convencional. Ora bem pois será uma leitura de qualquer época do ano, uma
leitura feita de leituras dentro de leituras dentro de leituras, onde perdemos
o conto aos personagens que são reais ou nem por isso ou assim-assim ou afinal
eram sombras chinesas das almas que não dominamos.
O
mal de Montano é o ar do tempo, o ar da literatura, a doença de quem acha que só
com literatura a vida vale a pena. Quando a vida se espelha nos livros é uma
calmaria, reencontramos os nossos dizeres que nunca foram ditos porque não o sabíamos
ou podíamos fazer, mas partir da literatura para a vida isso é uma doença... O mal de Montano... Suspender
a vida pelos pés e fica a ver quanto tempo ela se aguenta assim suspensa no ar
rarefeito da literatura. Encontrar Kafka, Montaigne, Gide, Pessoa, Dali, Walser, Michaux,
Pavese, Pitol, Rebard, Sebald, através dos seus diários íntimos, e
visitar o Pico e o Faial com olhos que não existem em quem vê a vida sem
literatura., encontrar quem??
Encontrar
o homem novo no Pico, o Teixeira,
a solidão das ilhas sempre desertas, a vida que mais não é que andar de ilha em ilha... Encontrar
Lisboa, Cardoso Pires, Hermínio
Monteiro meu pessoal e saudoso amigo...
Um
turbilhão de avanços e
retrocessos, em que o que parece normalmente não é, em que o que é agora pode nunca
ter sido ou sê-lo desde sempre.
Não
nos guia Vila-Matas, empurra-nos, rasteira-nos, fustiga-nos, mostra-nos o
abismo, assoma-nos a vertigem, sufoca-nos, suspende-nos.
Raramente
vi capa tão bem conseguida. Assusta-nos de repente a morte pendurada, com a
leve suspeita de que algo não está certo. teremos coragem de ver melhor, com
detalhe o abismo? Salvamos a literatura? Vila-Matas propõe-se salvá-la, o
contrario do que faz em “Dublinesca” que lhe concede as exéquias...
Mas
salvamo-la para quê? De quem? Quem assim a trucida?
Afinal,
digo eu num eterno retorno ao que era simples e se conjurou em artifícios burlescos, ela é que nos salva da falsa simplicidade da aparência.
Não
fora a literatura, quem seriam os outros?
Quem
seriam os que padecem do Mal de
Montano?
Que(m)
afinal somos nós a final?
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