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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Eleições Americanas: Sobre os 47% de Romney (I)


por Ana Rita Matias


O primeiro frente-a-frente televisivo entre Barack Obama e Mitt Romney, na passada quarta-feira, na Universidade de Denver, resultou na vitória, para surpresa de muitos, do candidato republicano. Uma vitória clara de Romney que contrariou todas as expectativas, isto porque, até ao momento, Romney era um candidato em perda, prejudicado por declarações polémicas referidas ao longo da campanha. A defesa do extremismo pró-Vida ou a sua declaração de que “os palestinianos não querem a paz” são alguns dos exemplos de afirmações que originaram completa incredulidade, um pouco por todo o lado, e possibilitaram momentos de pura delícia aos espectadores do Daily Show, mas que, fundamentalmente, davam a Obama a clara superioridade.

Uma declaração em particular de Romney sugere-nos que analisemos o seu sentido e o que ela nos pode dizer sobre o candidato e o próprio  eleitorado americano. Mitt Romney disse que 47% do eleitorado é dependente do governo, e que, com grande probabilidade estes votariam em Obama, em Novembro. Romney, defende Jeffrey Frankel, Professor de economia em Harvard, continua a tradição do seu partido: construir campanhas políticas à volta da proposição que os indivíduos que vivem no interior da América exigem as virtudes “Americanas” de autossuficiência e responsabilidade individual, e que os indivíduos que vivem nas regiões mais urbanas demonstram valores sociais em decadência e uma grande dependência do governo.Mas serão os votantes dos “red states”, que tendem a votar no partido republicano, de facto tendencialmente mais responsáveis pelo seu comportamento individual do que aqueles que vivem nos “blue states” e tendem a votar no partido Democrático?
O argumento “getting the government off our backs” é geralmente defendido pelo republicanos, o que na realidade é um paradoxo (para não dizer contradição), visto que são os estados republicanos que usufruem mais da despesa federal e das transferências líquidas das receitas orçamentais. Apesar dos comentários de Romney, são os estados com mais elevada percentagem de pessoas a não pagar impostos sobre o rendimento que tendem a votar no partido republicano. São os estados tendencialmente democratas que estão neste momento a suportar mais, em termos relativos e absolutos, a carga fiscal e a subsidiar todos os outros estados. Mas se aqui estamos a falar no domínio económico, o paradoxo mantém-se no domínio dos costumes e do cultural: os dados apontam que os “red states”, religiosos e conservadores, demonstram comportamentos de maior risco, promiscuidade, menores cuidados com a saúde, alimentação e físicos, do que os “blue states”, caracteristicamente mais liberais nos seus comportamentos, atitudes e perceções. 

Isto para dizer, que o conjunto do eleitorado que esteja porventura a defender a redução da intervenção do estado, pode no entanto não compreender que isso os incluí a eles, incluí os benefícios que recebem. Provavelmente, como diz Frankel, “estas são as pessoas que votarão em políticos republicanos, visto que eles lhes dizem aquilo que querem ouvir”.

Posto isto, a pergunta que se coloca é: Porque raio, Barack Hussein Obama, não referiste nem uma vez esta história dos 47% no debate contra Romney?

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