O primeiro frente-a-frente televisivo
entre Barack Obama e Mitt Romney, na passada quarta-feira, na Universidade de
Denver, resultou na vitória, para surpresa de muitos, do candidato republicano.
Uma vitória clara de Romney que contrariou todas as expectativas, isto porque,
até ao momento, Romney era um candidato em perda, prejudicado por declarações
polémicas referidas ao longo da campanha. A defesa do extremismo pró-Vida ou a
sua declaração de que “os palestinianos não querem a paz” são alguns dos
exemplos de afirmações que originaram completa incredulidade, um pouco por todo
o lado, e possibilitaram momentos de pura delícia aos espectadores do Daily
Show, mas que, fundamentalmente, davam a Obama a clara superioridade.
Uma declaração em particular de Romney
sugere-nos que analisemos o seu sentido e o que ela nos pode dizer sobre o
candidato e o próprio eleitorado americano. Mitt Romney disse
que 47% do eleitorado é dependente do governo, e que, com grande probabilidade
estes votariam em Obama, em Novembro. Romney, defende Jeffrey Frankel, Professor de economia em
Harvard, continua a tradição do seu partido: construir
campanhas políticas à volta da proposição que os indivíduos que vivem no
interior da América exigem as virtudes “Americanas” de autossuficiência e
responsabilidade individual, e que os indivíduos que vivem nas regiões mais
urbanas demonstram valores sociais em decadência e uma grande dependência do
governo.Mas serão os votantes dos “red states”, que tendem a votar no partido
republicano, de facto tendencialmente mais responsáveis pelo seu comportamento
individual do que aqueles que vivem nos “blue states” e tendem a votar no
partido Democrático?
O argumento “getting the government
off our backs” é geralmente defendido pelo republicanos, o que na realidade
é um paradoxo (para não dizer contradição), visto que são os estados
republicanos que usufruem mais da despesa federal e das transferências líquidas
das receitas orçamentais. Apesar dos comentários de Romney, são os estados com
mais elevada percentagem de pessoas a não pagar impostos sobre o rendimento que
tendem a votar no partido republicano. São os estados tendencialmente
democratas que estão neste momento a suportar mais, em termos relativos e
absolutos, a carga fiscal e a subsidiar todos os outros estados. Mas se aqui
estamos a falar no domínio económico, o paradoxo mantém-se no domínio dos
costumes e do cultural: os dados apontam que os “red states”, religiosos e
conservadores, demonstram comportamentos de maior risco, promiscuidade, menores
cuidados com a saúde, alimentação e físicos, do que os “blue states”,
caracteristicamente mais liberais nos seus comportamentos, atitudes e
perceções.
Isto para dizer, que o conjunto do
eleitorado que esteja porventura a defender a redução da intervenção do
estado, pode no entanto não compreender que isso os incluí a eles, incluí
os benefícios que recebem. Provavelmente, como diz Frankel, “estas são as
pessoas que votarão em políticos republicanos, visto que eles lhes dizem aquilo
que querem ouvir”.
Posto isto, a pergunta que se coloca é:
Porque raio, Barack Hussein Obama, não
referiste nem uma vez esta história dos 47% no debate contra Romney?
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