O Humanismo foi uma corrente
filosófica do Renascimento, que foi originária de Itália, para depois, mais
cedo ou mais tarde, se estender à restante Europa. Valorizava algo de diferente
até então, o Homem, e colocava-o no centro da criação. Passamos então de um
teocentrismo para um antropocentrismo, mas é de realçar que, apesar disto, não
se dá um consequente afastamento de Deus e da religião.
Podemos considerar que o Humanismo
foi uma tentativa de trazer de volta o auge da Humanidade: a Antiguidade
Clássica, em oposição à Idade Média, era considerada, por eles, a época das
Trevas. No entanto, isto não é totalmente verdade, visto que na Idade Média
muitas das características do Humanismo já existiam, apenas não tão
significativas. Isto indica que a época medieval não era tão desligada da
Antiguidade Clássica como se queria (e ainda quer) fazer parecer. Não se pode
confundir falta de ligação com a não glorificação exacerbada, que era o que
verificava na época medieval.
Sendo assim, não podemos entender a corrente
do Humanismo como uma corrente que apareceu e que se desenvolveu unicamente no
Renascimento. O Humanismo, é na verdade uma corrente com raízes no passado, na
épocas "das Trevas".
O Humanismo em Portugal surge no
século XVI, trazido e divulgado por estudantes que regressavam dos centros
humanistas, maioritariamente Itália. O que explica que em Portugal o humanismo
tenha estado inicialmente ligado à corrente italiana.
D. João III funda o Colégio das Artes,
um estabelecimento de ensino preparatório para a difusão dos ideais e cultura
do Humanismo. Podemos destacar dois grandes humanistas portugueses, André de
Resende e Damião de Góis, influenciados por Erasmo de Roterdão, um teólogo
humanista dos Países Baixos que viajou por toda a Europa. André de Resende
defendeu a necessidade de estimular os estudos humanísticos em Portugal,
criticando o ensino (a escolástica).
Damião de Góis pode ser considerado uma
ligação entre Portugal e a Europa culta do seu tempo, tomando conhecimento do
humanismo cristão, da reforma e da posição católica.
O Humanismo é então um corrente que,
apesar de se querer afastar da Idade das Trevas, tem as suas origens nesse
mesmo período, pegando em algo já existente e exacerbando-o, transformando-o. O
que não significa que o Humanismo não merece valor e destaque pelo que foi e
representou para a Europa.
Bibliografia
para os mais curiosos:
·
AAVV, “O Humanismo na Renascença”, in História Geral da Europa 2: Do Começo do Século XIV ao Fim do Século
XVIII, Publicações Europa-América, 1996.
·
CANDEIAS MARTINS, Ernesto, “O Humanismo e a sua
re-ligação ao Homem”, in Educação e
Filosofia, vol. 12, nº 20, Brasil, Universidade Federal da Uberlândia,
1996.
·
DRESDEN, S., O
Humanismo no Renascimento, Porto, Editorial Estampa, 1968.
·
FRAGA, Maria Teresa de Fraga, Humanismo e Experimentalismo na cultura do
século XVI, Coimbra, Livraria Almedina, 1976.
'Passamos então de um teocentrismo para um antropocentrismo, mas é de realçar que, apesar disto, não se dá um consequente afastamento de Deus e da religião.'
ResponderEliminarOlá, Bruna! Excelente texto! Quero, apenas, levantar uma questão:
essa passagem do teocentrismo para o antropocentrismo, essa secularização, não será falsa? Não será o homem antropocentrico aquele que mais crê em Deus? Sei que dizes que não se dá um afastamento de Deus e que te queres referir ao primado da razão por oposição à teologia como logos ou conhecimento - aliás, como fez Descartes no famoso 'penso, logo existo'.
Mas será o primado da razão condição suficiente para mudar toda uma crença que afinal tem a teologia na sua base? Passo a explicar em termos mais actuais: o aborto é condenado, muitas vezes, em termos religiosos, dado que se considera que o início da vida se dá no momento da criação da alma (que, por acaso, também se chama 'concepção cartesiana da alma' :P) e que a alma já existe num momento anterior (?? nunca percebi bem) à concepção. Mas o que é que move este argumento? Toda uma concepção religiosa e teológica do ser está por trás deste argumento. De quem? Do homem que aparenta ser 'antropo' para afinal ter 'coração' de 'teo'.
Laura Sequeira*
ResponderEliminarOlá :) É sem uma dúvida uma grande questão, de certa forma tens razão, podemos considerar falsa, tal como tu muito bem explicaste nos termos mais actuais.
ResponderEliminarEra impossível na altura do Humanismo, tendo em conta o clima fervoroso de religião em que se vivia, existir um antropocentrismo completo. Foram inovadores, mas seria complicado afastar-se de algo quando era na verdade uma das poucas, arrisco a dizer a única realidade que conheciam, Deus era algo sempre presente. Acredito que ao colocarem o Homem no centro da criação deu-se sim uma valorização do Homem, como nunca antes havia sido feita, mas sempre em relação a Deus. Como que dissessem "Olhem como somos tão importantes ao olhar de Deus."
Apesar de alguns humanistas, como André de Resende ter criticado a escolástica, não havia uma crítica à religião, e chega mesmo a falar-se de humanismo cristão.
Fico contente por teres gostado do texto :)