Juntamente com as
boas-festas da «sazão, que sói ser fria», e está a corresponder ao costume,
tornando ao que era, recebi há obra de um mês, por correio electrónico, um
artigo enviado por minha avó Georgina, que o encontrou por acaso na internet
quando buscava elementos sobre a missão diplomática do seu dilecto conde de
Gobineau junto da corte imperial de D. Pedro II, no Rio de Janeiro.
Sim, Deus nos livre de
paixões serôdias! Esta da pobre Senhora teve a virtude de a fazer sucumbir ao
virtual, e ei-la percorrendo o ciberespaço em demanda de quanto se relacione de
perto ou de longe com o autor das Pléiades.
Mas é ainda aprendiz nestas
lides, e no copiar e colar acabou por perder a referência ao autor e sítio,
jornal ou blogue de publicação do artigo, – que muito a impressionou pela
clarividência da análise do «estado a que isto chegou», como ela diz. «Deve ser
pessoa bem posicionada e que tem seguido de perto e com muita atenção a coisa
pública nos últimos 20 anos. Fez-me lembrar aquele dito de Bertrand Russell,
filósofo sobre lorde, de que a civilização consiste em prever e prover.»
Eu, mais uma vez, e
ressalvando algum empolamento do estilo e defeito de português, abundo no
parecer da boa Senhora, o que me costuma suceder com mais frequência do que
talvez conviesse a um neto, como os meus amigos me vão significando, com alguma
irritação mal disfarçada.
Mas vós direis.
Eis o artigo:
«O homem de Estado digno
desse nome deve tudo prever, tudo calcular, – e ter sempre presente que os
homens são homens nascidos com paixões humanas, e não anjos, abstracções ou
princípios encarnados.
O interesse de quem tem o
poder está todo e unicamente em acertar.
Se não já por dever de consciência e de patriotismo, ao menos por egoísmo, por
vantagem própria e individual, por ambição mesmo do poder, o esforço constante
dum governo deve ser acertar. Entre
nós tem-se visto governos [sic] que
parecem absurdamente apostados em errar, errar de propósito, errar sempre,
errar em tudo, errar por frio sistema. Há períodos em que um erro mais ou um
erro menos realmente pouco importa. No momento histórico a que chegámos, porém,
cada erro, por mais pequeno, é um novo golpe de camartelo friamente atirado ao
edifício das instituições e da economia; mas ao mesmo tempo tal é a inquietação
do futuro e do desconhecido que cada acerto, cada bom acerto, é uma estaca
mais, sólida e duradoura, para esteiar [sic]
a economia e as instituições. Toda a dúvida está em saber se ainda há ou se já
não há, em Portugal, um governo capaz de sinceramente se compenetrar desata
grande, desta irrecusável verdade.
Que resta pois? Resta,
como esperança, o sabermos que as nações têm a vida dura, e que o nosso Portugal
tem a vida duríssima. E se os que estão no poder porfiarem sempre em cometer a
menor soma humanamente possível de erros e realizar a maior soma humanamente
possível de acertos, muitos perigos podem ser conjurados e a hora má adiada.»
*
Calcular, prever e
prover, acertar…
Enfim, já agora agradece-se
a quem lhe saiba da origem – autor ou publicação – que por favor a queira
informar neste blogue.
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