Em 1862, Victor Hugo escreveu uma
história de estórias de franceses corajosos, pobres e ricos, apaixonados,
redentores e lutadores, contada entre 1815 e 1832, intitulada Os Miseráveis. Mais tarde, em 1980,
Claude-Michel Schönberg, Alain Boublil e Jean-Marc Natel decidiram introduzir a
música no meio do drama e criaram um belíssimo musical que ainda hoje se canta
nos famosos teatros musicais.
Depois, apareceu Tom Hooper (O Discurso do Rei) com a ideia de
converter a história de Victor Hugo, acompanhada com a música, num filme. E que
boa ideia ele teve.
A cena inicial do filme permite-nos
perceber que estamos perante um épico quer de drama quer de fotografia. O
perfil do filme fica traçado quando vemos escravos a puxarem um navio de guerra
gigante enquanto cantam um hino amargurado que é o Look Down, enquanto Javert, o mau da fita interpretado por Russel
Crowe, os controla no alto do cais. Aí percebemos porque Jean Valjean (Hugh
Jackman) está preso. Percebemos, também, que o guarda roupa e maquilhagem foi
estudado e produzido com todo o rigor e qualidade (A maquilhagem que Jackman
passou é impressionante desde os dentes até ao escalpe) e não passa
despercebido até ao final do filme. Aposto que o Óscar para esta categoria já
está ganho.
E a partir da cena inicial a música
não pára... literalmente. 98% do filme é cantado durante mais de 40 músicas. E
Tom Hooper trouxe mais surpresas: deu aos actores a oportunidade de cantarem ao
vivo, fazendo deste filme um musical completamente diferente permitindo aos
intérpretes liberdade quer nas notas, quer na actuação, criando um realismo
igual ao que se sente em teatro (senão melhor) e deixou de parte as típicas
explosões de dança e cantoria.
É claro que cantar não é para todos, como é o
caso de Crowe que, no entanto, me surpreendeu pela positiva tanto a nível
musical como de representação (por vezes o que salta mais a vista é mesmo a
barriga dele). Até para Jackman (que é um homem de musicais) as notas custam a
sair durante a difícil Bring Him Home. No
entanto, o actor é um exemplo de versatilidade artística actual e passou por
muito para conseguir o aspecto seu durante o filme. Um achado; será que ganha o
Óscar?
Quando Anne Hathaway aparece na pele da miserável Fontine agarra o espectador com os seus olhos gigantes e chorosos enquanto canta, na perfeição, a famosa letra I Dreamed a Dream. Um papel curto mas poderoso nomeado também para o Óscar da academia. A filha de Hathaway é Cosette, interpretada primeiro pela estreante Isabelle Allen e depois pela mais velha Amanda Seyfried, com uma capacidade vocal extraordinária.
Do elenco mais jovem destaco os rebeldes da revolução Eddie Redmayne no
papel de Marius (apaixonado por Cosette) e do mais maduro e idealista Enjolras
(Aaron Tveit), ambos com interpretações muito profissionais e potentes. Éponine
(Samatha Barks) é outra miserável enfiada num triângulo amoroso
(Éponine-Marius-Cosette) que acaba morta salvando o seu amor do exército
durante o ataque nas barricadas. E é Barks que desempenha um papel que nos vais
deixar cair lágrimas numa cena delicada e marcante acompanhada com uma sublime
peça musical.
Os pais de Éponine são Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen, os
Thénardiers, que estão fabulosos aqui como os comic relief do filme, escolhidos na perfeição para ao papel, com
gargalhadas garantidas cada vez que aparecem.
Embora não seja perfeito na sua totalidade com a sua longa duração,
momentos musicais que não encaixam bem, a carga emocional de Cosette e Marius,
os cenários da cidade (belíssimos!) que por vezes enganam a realidade, ganha em
grande pela fotografia de Danny Cohen. A câmara de Hooper impaciente está
sempre presente nos momentos mais delicados ou mais épicos com planos e ângulos
exímios que conseguem captar as mortes numa batalha ou o arrependimento de Valjean
com toda a simplicidade ou o culminar musical que nos põe a lágrima no olho.
Um filme de luta e coragem, mas quem é o herói no final do dia é Tom Hooper. Ele teve a coragem para pegar num ícone como Os
Miseráveis e passá-lo para o grande ecrã, pondo os actores a cantarem ao vivo,
usando cenários e lugares reais, atreveu-se a ter novas atitudes criando um
novo molde para este género de películas... Sim, Hopper foi um homem audaz para
criar a peça de arte que é este filme.
A
SENTENÇA: Um
musical obrigatório para quem é fã de musicais. Para quem não o é poderá ser
difícil de digerir ao início mas no final vai ficar com o gostinho. E a
músicas... vão ficar no ouvido.
10/10
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