por Laura Falé
Lia este texto, quando me pus a pensar em quais poderiam ser
as diferenças históricas, filosóficas e políticas que estão por trás destas
diferenças culturais que hoje se nos apresentam.
Para quem
não leu a entrada de blogue – é um pouco grande e em Inglês, embora não seja de
leitura complicada – fala da experiência pessoal da Maria, uma Inglesa que foi
criada no Canadá. Ela visitou Singapura e de seguida, Bordéus, em França.
Então, neste post, apercebe-se que sentiu um choque cultural muito maior quando
foi a França do que quando foi a Singapura. Se à partida isto nos parece
estranho – a nós, ocidentais – temos que nos colocar o máximo possível fora na
nossa própria cultura e do nosso conceito de nação. Talvez seja melhor
começarmos por nos vermos de fora, para depois podermos distanciar-nos mais
ainda e observarmos de que forma a cultura asiática evoluiu e em que assenta.
Vamos então
dividir este texto em duas partes: este primeiro post falará da ideia de nação
para França. O próximo, falará da cultura em Singapura e concluirá os dois
posts.
O nosso
conceito de nação, pelo menos como alguns autores o descrevem e com os quais eu
concordo (para mais informações, consultar a bibliografia no final deste
artigo), começou no século XVIII, mas não da forma como o conhecemos hoje. Foi
durante a Revolução Francesa, em 1789, que aqueles que pertenciam ao povo se
revoltaram contra a monarquia instituída, o clero e a nobreza que possuíam
todos os privilégios, constituindo apenas 3% da população francesa.
Sendo que o Rei se sentiu ameaçado, decidiu reunir os
representantes de cada Estado – a noção de nação no Antigo Regime era uma
privilégio de nascença, ou seja, não implicava pertencer a um determinado país
ou a partilhar uma determinada cultura, como nós vemos atualmente, mas sim a
pertencer ao que nós chamamos classe social (e que, naquele tempo, se chamava
ordem).
Os representantes do Terceiro Estado - o povo - , tinham o mesmo poder de voto, dentro dessas cortes convocadas pelo Rei, que a Nobreza e o Clero. O que, na prática, faria com que a aprovação de leis fosse injusta, já que estavam dois votos (Nobreza e Clero) contra um (Povo). Desta forma, nenhuns privilégios seriam abolidos.
Assim, após alguns desacatos, os membros do Terceiro Estado decidem reunir-se na Sala do Jogo de Ténis, uma sala anexa ao palácio, e formam aí uma Assembleia Constituinte, liderada por Robespierre, um dos mal-fadados filhos da Revolução. Aqui, elaboraram a primeira Carta de Direitos do Homem e do Cidadão e pretendiam, dizem eles, tornar o Estado o lugar onde se promulgam leis necessárias para todas as liberdades se equilibrarem.
Dizia Montesquieu que “a liberdade é o direito de fazer todo o que as leis permitem; e se um cidadão pudesse fazer o que elas proíbem, deixaria de ser livre, pois os outros teriam todos o mesmo poder”. Portanto, esta ideia de nacionalismo e de nacionalidade era altamente inclusiva. Qualquer pessoa que desejasse estar subordinada às leis francesas, poderia fazê-lo, independentemente do país onde vivia ou da sua origem étnica. Foi a única vez que o nacionalismo foi mais à esquerda – embora Marx tenha dito que a Revolução Francesa foi uma revolução burguesa, mas este é um tema para um próximo post – e que foi, repito, inclusiva.
Os representantes do Terceiro Estado - o povo - , tinham o mesmo poder de voto, dentro dessas cortes convocadas pelo Rei, que a Nobreza e o Clero. O que, na prática, faria com que a aprovação de leis fosse injusta, já que estavam dois votos (Nobreza e Clero) contra um (Povo). Desta forma, nenhuns privilégios seriam abolidos.
Assim, após alguns desacatos, os membros do Terceiro Estado decidem reunir-se na Sala do Jogo de Ténis, uma sala anexa ao palácio, e formam aí uma Assembleia Constituinte, liderada por Robespierre, um dos mal-fadados filhos da Revolução. Aqui, elaboraram a primeira Carta de Direitos do Homem e do Cidadão e pretendiam, dizem eles, tornar o Estado o lugar onde se promulgam leis necessárias para todas as liberdades se equilibrarem.
Dizia Montesquieu que “a liberdade é o direito de fazer todo o que as leis permitem; e se um cidadão pudesse fazer o que elas proíbem, deixaria de ser livre, pois os outros teriam todos o mesmo poder”. Portanto, esta ideia de nacionalismo e de nacionalidade era altamente inclusiva. Qualquer pessoa que desejasse estar subordinada às leis francesas, poderia fazê-lo, independentemente do país onde vivia ou da sua origem étnica. Foi a única vez que o nacionalismo foi mais à esquerda – embora Marx tenha dito que a Revolução Francesa foi uma revolução burguesa, mas este é um tema para um próximo post – e que foi, repito, inclusiva.
Ora, depois
de se instalar o Terror Francês, França começou a invadir o resto da Europa. Os
países europeus, que não eram mais que pedaços de terra onde viviam camponeses
que nem os mesmos dialectos falavam dentro do próprio país, eram desconjuntados
e sem uma política coesa, sem um conjunto de leis que os ajudasse a manter-se
unidos. Portanto, a ideia de Napoleão foi a de criar um império Francês que,
cheio de esperança, unisse todos os países sob a lei francesa.
Mas o que
aconteceu foi exactamente o contrário. Com as invasões Napoleónicas, muitos
países, nomeadamente a Alemanha, começaram a encontrar formas de se ‘ensimesmar’,
de se virar para si próprios e aí o nacionalismo francês, que nessa altura era
inclusivo e assentava nos pressupostos de Rousseau na altura do Contrato Social,
passou a ser exclusivo de cada povo originário. Assim, para eles, pertencia à
nação quem tinha ‘sangue’ originário e este raciocínio levou a que os países se
fechassem em si mesmos. Ora, este não era de todo o objectivo de Napoleão, que
acaba por não concretizar o Império Francês, mas por deixar sementes de
nacionalismo mais conservador por toda a Europa.
Este
nacionalismo exclusivo dos povos originários foi propagado muito lentamente com
uma série de políticas educativas e publicidade à própria nação. Aliás, nos
Discursos à Nação Alemã, de Fichte, ele diz-nos que passos precisam os Alemães
de tomar para que se constitua uma verdadeira nação. Note-se que aqui não está
ainda o discurso racista de Hitler, que só entra em voga no século XX,
provavelmente por não haver ‘provas científicas’ – leia-se, por a ciência ainda
não estar suficientemente desenvolvida – da superioridade alemã.
Mas de que
forma poderão estes episódios ter tanta relevância na nossa forma de receber o
outro e de encontrarmos o indivíduo que não é nacional quase como tomado de um
espírito ‘estrangeiro’?
Fica para ser respondido no próximo texto, que este já vai
longo e maçador.
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