Há dias, em contexto de sala de aula, na qualidade de aluna-futura
professora, observava um grupo de crianças, as suas atividades, comportamentos
e formas de expressão. Uma fruição autêntica da realidade escolar. Deixei-me
ficar. Compenetrada nos sorrisos espontâneos, no espírito aguçado, na sua
natural pré-disposição em saber e aprender, nas expressões engraçadas
assinalando “novidades” e, de repente, fui como que atingida por uma onda de
responsabilidade. Pensava para comigo serem crianças e, portanto, seres
frágeis, mas capazes de “mover montanhas”, pedaços de vida em ebulição, cada um
com um percurso singular, no qual terei o privilégio (e acrescida
responsabilidade) de deixar a minha “marca”, ainda que passageira. Senti que
poderia contribuir, de alguma forma, para a sua formação e crescimento,
enquanto alunos e pessoas.
Na verdade,
esta é uma das mais humildes e complexas constatações de um educador/professor.
Uma missão fulcral na preparação de um “cidadão do mundo”.
Ali,
observava fragmentos que pertencerão ao futuro e pude lembrar-me da máxima
socrática, a de tornar as crianças boas e inteligentes.
É nesta
linha de pensamento que sinto que cabe ao agente educativo, nomeadamente,
educadores e professores, delinear um ensino/aprendizagem no qual sejam
fomentadas estruturas sólidas em princípios e valores de uma educação para a
cidadania (o assumir-se como pessoa), alicerçadas em condutas pró-sociais.
Incutir,
desde cedo, na criança comportamentos de disponibilidade, generosidade,
solidariedade, de apreço e atenção para com os outros, segundo um perfil
altruísta (isento de “recompensas” e “compensações”) é, sem dúvida, uma
mais-valia para o educando e para a sociedade em geral.
Estas
práticas “pró-sociais” (de cariz transversal ao ser humano) deverão ser
abordadas atendendo aos diferentes níveis de escolaridade e de desenvolvimento
pessoal em que a criança se encontra.
Na Educação
Pré-Escolar a criança situa-se numa fase de egocentrismo (segundo Piaget), o
que pode dificultar o desenvolvimento altruísta e a perceção do outro. Porém,
há que alertá-la para a existência da dimensão social, para o cumprimento de
determinadas normas de respeito pela dignidade humana, para que esta nas suas ações
possa atuar de forma (quase) autónoma perante determinadas situações,
identificando “o bem” e “o mal” (podendo aqui referir-se os estádios de
raciocínio moral defendidos por Kohlberg).
No 1º Ciclo
do Ensino Básico, a criança apresenta uma maior fluidez em compreender que,
numa atitude de partilha, mesmo que se “desfaça” de determinado bem, é capaz de
recolher benefícios desta despojada atuação (a nível material, psicológico e ético/moral).
Além disso, será capaz de se colocar no lugar do outro e de refletir a relevância
da sua generosidade.
Acredito
que uma educação pró-social e, consequentemente, mais humana não se esgota num
conjunto de prescrições (ou “receitas”) de formas corretas da criança atuar,
mas sedimentar-se-á numa ampla construção do ser pessoa, de saber como agir sobre determinado conflito/ situação
problema, de forma autónoma, responsável e conscienciosa. Conteúdos que deverão
ser incrementados, desde cedo, pelo ambiente escolar e familiar, a fim de
crianças e jovens, conhecedores das variadas áreas de formação (linguística,
artística, matemática, científica, entre outras), bem como com um vasto sentido
de humanismo, construam um melhor rumo para a vivência presente e futura em
sociedade.
Sem comentários:
Enviar um comentário