O bullying é um fenómeno já com muitos anos, e cujo termo, creio eu,
não é particularmente novo a ninguém. Consiste essencialmente num modo de
abuso, seja por via física ou verbal, por parte de algumas pessoas de modo a
rebaixar e possivelmente humilhar outras, uma prática mais comuns em grupos de
crianças e adolescentes.
A questão-essencial em qualquer
discussão sobre bullying está no
seguinte: deverá o bullying ser
visto como um problema social?
Mais relevante ainda, dever-se-ão aplicar métodos que visem combater esta
situação e qual a importância dada aos mesmos?
A meu ver, há aqui dois pontos
de vista básicos. Há quem diga que o bullying
é uma parte inevitável da dinâmica social dos jovens, que constrói carácter e
ajuda as vítimas a amadurecer e aprender com a experiência. Efectivamente,
quem sofre de bullying e recupera da
situação, geralmente refere que beneficiou da experiência, que esta ensinou a ultrapassar
dificuldades e a defender-se a si próprio.
Porém, como em tudo, existe um
lado negro... Casos mais extremistas de bullying
levam a notáveis traumas duradouros, estados de depressão e a tentativas
de suicídio. Quando as vítimas chegam a este mais pesaroso limite,
obriga-nos a repensar essa perspectiva clássica de que o bullying é simplesmente “crianças a ser crianças” e que estas têm
de aprender a lidar com ele. Daí que o outro ponto de vista consiste no de que bullying é um problema relevante, uma
conduta condenável que merece a devida atenção de modo a dar apoio às suas
vítimas e evitar que estas sofram excessivamente por sua causa.
Um problema típico em qualquer
discussão de bullying está em definir
a fronteira que divide o aceitável do inaceitável. Há vários casos que são
exageradamente interpretados como bullying.
Crianças a inventarem alcunhas umas para as outras, a chamarem-se nomes ou a
insultar as respectivas mães, tudo isso pode frequentemente ser visto como
brincadeiras inocentes ou não, dependendo de muitos outros factores, tais como
a persistência das mesmas, a vileza com que são realizadas, e a
própria vulnerabilidade psicológica da vítima.
Outra questão importante neste
tipo de discussões está em tentar dissecar a verdadeira origem do problema.
Dependendo da situação específica e do contexto, pode-se apontar a origem do
problema na vítima, marcada por fragilidade
emocional e angústias psicológicas que a fazem reagir pior perante
os cenários que poderiam ser interpretados como “brincadeiras inocentes” por
outros, e muitas vezes se pode apontar a origem ao próprio bully, em situações onde
este abusa rotineiramente a vítima, ou recorre a violência física e
verbal verdadeiramente agressiva.
Hoje em dia, temos um novo meio
que fornece uma arma poderosa no que toca a esta prática: a Internet. Com ela,
o bullying conseguiu passar para as
vias rápidas virtuais, tendo-se agora o problema acrescido de cyberbullying. Com a ausência de
um contacto face-a-face, muitas pessoas revelam mais facilmente a sua faceta
mais cruel, sem receio de represálias, porque estão envolvidas por detrás da
máscara de anonimato. Relembre-se o famoso caso de Amanda Todd:
Por mais que analisemos os
casos, apontemos culpas, e discutamos a validade dos casos-exemplo como válidos
ou pessoas a “fazerem uma tempestade num copo de água”, algo que creio ser
impossível de se negar é que, se existem vítimas verdadeiramente a sofrer por bullying, então devem ser ajudadas. Não
é o nosso papel fazermo-nos de superiores e julgarmos os outros,
categorizando-os indevidamente como “fracos”, mas sim fornecer ajuda quando ela
é evidentemente precisa.
Qualquer escola deverá estar
ciente do problema de bullying, e
fazer todos os possíveis por o evitar sempre que se veja que está a afectar
seriamente a vítima. Ninguém é alheio aos sentimentos de inadequação social e de solidão.
Combater o bullying não irá
subitamente fazê-los desaparecer, mas acredito piamente que é um acto que só
piora a situação. Além de alimentar a estigmatização e a rejeição de pessoas de
certos grupos sociais por características discriminadoras (orientação sexual,
estatuto social...), é um acto que eu vejo como sendo completamente
infrutífero, e que alguns estudos até sugerem ser responsável por afectar genes de stress e de saúde mental.
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