É difícil apurar quando surgiu a expressão “one hit wonder” e é igualmente complicado fazer uma tradução adequada para a língua portuguesa. A expressão é tendencialmente veiculada para a música e caracteriza o cantor ou banda, que ao longo da sua carreira, nunca consegue igualar o êxito de um hit passado.
Um sucesso estrondoso é à partida o que qualquer músico deseja alcançar, mas aquilo que pode ser um privilégio para poucos, é entendido como uma maldição ou mesmo o fim de muitos. Quem não se lembra do tema Boys de Sabrina, a cantora italiana que provocou a Europa no final dos anos 80? Se é verdade que grande parte do sucesso desta música electopop está no seu vídeo, onde Sabrina deixa cair involuntariamente o seu bikini, foram muitas as bandas e cantores que tentaram definir-se pela sua carreira, e não por um mamilo.
Video killed the radio star dos The Buggles coroou a rádio como o meio sagrado do artista musical e invadiu os tops no início dos anos 80 na Europa e nos EUA. É precisamente nesta época, a meu ver, que se encontram os maiores “one hit wonders” da história da música. Mas afinal o que é uma “one hit wonder”? É com certeza um sucesso inquestionável, mas não será extremamente redutor e até insultuoso para um artista?
Recordo-me que, aquando da estreia de Gloria Gaynor em Portugal, a Outubro do ano passado, havia vários posters espalhados por Lisboa que mostravam uma cantora, naturalmente mais velha (havia passado mais de 30 anos desde o seu maior sucesso), mas ainda glamorosa. Contudo, não era o seu nome artístico que aparecia em maior destaque, mas o seu mega-êxito I will survive. A um nível comercial será evidente que o concerto não teria tantos espectadores caso o “hino da música disco” não estivesse representado no cartaz.
Todos nós crescemos com estas canções e rebuscando no meu baú de memórias, algumas delas, apesar de virais e contagiantes detêm possivelmente as piores e imagináveis letras possíveis. Life de Des’ree tem uma energia especial e um refrão catchy, depreendera então pela melodia e pelo título que seria certamente uma fantástica canção sobre a vida em geral. A ideia mudou quando li atentamente a letra ( I don't want to see a ghost/It's a sight that I fear most/I'd rather have a piece of toast/And watch the evening news). Vejamos, ainda o êxito improvável dos Bahamen com Who let the dogs out no ano de 2000. Metade da letra não é mais do que sucessivos latidos humanos, enquanto a outra metade é sobre uma festa que pode a qualquer momento ser interrompida porque ninguém (infelizmente) se lembrou de pôr uma trela nos cães.
Os êxitos momentâneos continuarão a multiplicar-se, sem escolher idades ou décadas. Se alguns possibilitam a construção de uma carreira, outros abafam-na e assumem-se indubitavelmente como o único sucesso de um músico. Os New Radicals criaram apenas um álbum em 1998, mas deixaram um tema estimulante e memorável para muitos um lema de vida – You get what you give.
Podemos muitas vezes não nos lembrar de quem interpreta, mas sabemos sempre trautear estes temas do início ao fim. Muitos consideram a expressão ingrata por fazer a lembrar quem vence uma vez que não o voltará a fazer, mas verdade é que muitos “one hit wonders” atravessam gerações e perduram no tempo. Não será afinal intemporalidade o fim último da música?
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