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terça-feira, 17 de julho de 2012

O momento e a promessa dos Mumford and Sons

por João Xará

Sinto-me por vezes parte de uma geração que a nível musical já não pode observar o aqui e agora, o percurso de grandes músicos do início ao fim. Claro que o legado fica, mas invejo quem acompanhou o nascimento e a “morte” dos Beatles*, por exemplo. Em 2010 quando escutei o álbum Sigh No More (2009) dos Mumford & Sons pensei ouvir uma relíquia já antiga do folk rock à qual iria redescobrir, mas não descobrir. Mas este quarteto fantástico britânico era afinal meu contemporâneo, encerra-se assim a frustração geracional e testemunha-se um grande momento.
Sigh No More é a primeira e uma das melhores canções do álbum, do meu ponto de vista. A melodia nasce acanhada com a guitarra de Marcus e na voz dos quatro elementos em uníssono, mas ganha força quando se juntam o banjo, o piano e violoncelo. Love it will not betray you / Dismay or enslave you, it will set you free ganha substância e sentido cada vez que é cantada, afinal segundo a banda só assim o ser humano é aquilo para o qual foi feito ou destinado. A canção à semelhança de outras tem frases retiradas da peça de Shakespeare, “Much Ado About Nothing”. Benedick é uma das personagens que questiona a natureza do amor e exclama o primeiro verso da música, Serve God, love me and mend.

O lado mais negro dos Mumford & Sons veio curiosamente com o primeiro single, Little Lion Man. Nomeada para melhor canção rock aos grammy, a música é sem dúvida a mais agressiva da banda, na qual Marcus Mumford referiu em inúmeras entrevistas agarrar-se ainda à letra que relata uma situação difícil que viveu na qual não vê necessidade de explicá-la senão e só pela música. A canção onde a viola e a guitarra de ressonância não têm receio de se soltar permitiu o perfurar uma sólida barreira que se coloca à maioria dos artistas britânicos, mercado estadunidense.


A sua conquista perpetua-se claramente com The Cave, o terceiro single do disco. Muitos estabelecem com veemência uma comparação com a Alegoria da Caverna de Platão, não querendo arriscar dessa forma e relevar um tom filosófico, a verdade é que se trata de uma música de superação de um aprisionamento que fora feroz, mas que termina em esperança, And I'll find strength in pain / And I will change my ways / I'll know my name as it's called again. Bem vista pelas publicações de música recebeu em 2011 mais quatro nomeações aos prémios grammy, incluindo canção do ano e tornou-se numa espécie de hino onde a banda encerrou, por exemplo, o concerto no Optimus Alive em Oeiras no dia 14 de Julho.


After the Storm finda o álbum com o melhor da banda: as letras metafóricas, poéticas, que transpiram maturação e universalidade, de tal forma que a sonoridade parece ser do passado. É a meu ver uma das músicas mais bem conseguidas, possivelmente com referências religiosas, onde a musa é a morte (home). Apesar dela implicar a perda, anseia-se que não seja permanente evidenciando um conforto na fé de encontrar o alguém do outro lado. Preza pela sua vulnerabilidade e capacidade de aceitação perante as coisas que não podemos mudar, Because death is just so full and man so small / Well I'm scared of what's behind and what's before.

O álbum é surpreendentemente coeso para um trabalho discográfico de estreia e tem momentos notáveis, da dor inconformada de White Blank Page às lições duras, mas optimistas que se aprendem ao confrontar o coração com o raciocínio (ao som do mandolim e de trombones) em Winter Winds. A expectativa para o novo álbum, Babel com edição a 24 de Setembro é inegavelmente elevada, especialmente depois de já terem cantado ao vivo Below my feet e Ghosts that we know (consulta aqui o teaser do disco).

Os multinstrumentistas Marcus Mumford, Ben Lovett (que falou em português em Algés), Country Winston e Ted Dwane conseguiram um momento único em Sigh No More e que pelo menos promete alimentar a sede de fãs em testemunhar, mas sobretudo acompanhar em modo de presente contínuo isso mesmo, grandes momentos.

Enquanto Setembro não chega, os fãs podem escutar o dueto da banda britânica com a também compatriota, Birdy com Learn Me Right para o filme da animação da Pixar, Brave.



*não viso qualquer tipo de comparação com a banda.

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